segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gelos amorfos: A água que ninguém viu

Gelos amorfos: A água que ninguém viu
A água não é apenas a mais preciosa, mas também a mais estranha das substâncias. Ao contrário do que se pensa, ela forma apenas um tipo de sólido, o conhecido gelo. Uma simulação feita em computador pelo físico Eugene Stanley, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostra que quando a água é resfriada bem abaixo de zero, sob pressão, aparecem dois outros tipos de gelo.
O mais espantoso é que eles não são cristalinos, ou seja, as moléculas de O2 no seu interior não se empilham uma em cima da outra, em colunas e fileiras bem ordenadas. Em vez disso, os novos gelos são amorfos, como os vidros - suas moléculas se agregam solidamente, mas de maneira desorganizada. Outro detalhe é que os gelos amorfos transformam-se um no outro continuamente e coexistem à mesma temperatura e pressão, uma situação que se denomina ponto crítico.
Revista Superinteressante

Há mais água no céu que na Terra

Há mais água no céu que na Terra
Informações sobre a quantidade de água nos planetas e cometas.
Terra, planeta água? Você acredita que o nosso planeta seja um oásis em meio a um Universo árido? Saiba que para os padrões cósmicos vivemos num dos ambientes mais desérticos que existem. Vamos fazer um recenseamento dos diversos ambientes astronômicos para avaliar corretamente a situação da Terra. Seu volume de água é de 1 bilhão de trilhão de litros; se toda a sua superfície fosse coberta de mares, estes teriam 3 quilômetros de profundidade. Isso é de fato um recorde entre os planetas do mesmo tipo da Terra: Mercúrio, Vênus e Marte. O problema é que a água só começa a ser abundante depois da órbita de Marte, entre os planetas ditos jovinianos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Já é uma indicação disso o simples fato de as luas dos planetas jovinianos terem densidades próximas da do gelo. Um exemplo arrasador: a maior lua de Júpiter, Ganimedes, tem massa 30 vezes menor que a da Terra, mas reúne 70 vezes mais água que os oceanos terrestres. E ela está em forma líquida: nos mares em que se encontra, a mais de 500 quilômetros abaixo da crosta sólida, a alta pressão impede o congelamento.

Nas outras luas de Júpiter, como Calisto e Europa, repete-se o fenômeno dos mares subterrâneos. Esses satélites se formaram de acordo com uma mesma receita: cerca de 50% de rochas e 50% de água. O gelo, no entanto, prevalece no conjunto de luas dos planetas jovinianos.
Em todas as 54 luas do sistema solar, a água perfaz um volume 300 vezes maior que o dos mares terrestres. Nos planetas, ela existe em formas variadas. Em Vênus, por exemplo, está toda em forma de vapor, e se cobrisse toda a superfície, em estado líquido, mal chegaria a 10 centímetros de profundidade. O curioso é que Vênus já teve tanta água quanto a Terra, mas o efeito estufa volatilizou os oceanos. No vapor resultante, a molécula de água foi destruída pela radiação ultravioleta solar, e o hidrogênio, separado do oxigênio, foi jogado para o espaço: Na Terra, o efeito estufa é muito mais brando e as perdas são pequenas. A água expelida pelos vulcões consegue repor o que os oceanos perdem para o espaço.

Também Marte sofreu com o efeito estufa: seus mares de 100 metros de profundidade sumiram sob o calor de outras eras. Mas a vaporização não foi total, e até hoje se vêem lagos e leitos de rios secos na superfície. Se o resto de água entranhada nas rochas viesse à tona criaria mares de 400 metros de profundidade. Isso não acontece porque a massa do planeta é pequena e não gera atividade tectônica: ou seja, não há movimento interno suficiente para derreter as rochas e expeli-las - juntamente com a água - pela boca dos vulcões.

Resta examinar os quatro grandes planetas exteriores - os reservatórios realmente grandes de água no sistema solar. E uma pena que esta se encontre em local inacessível, sob a densa atmosfera desses mundos gigantescos. Em vista disso, as estimativas são incertas, já que nosso conhecimento sobre o interior dos planetas jovinianos é bastante indireto, vindo principalmente de modelos teóricos calculados com a ajuda de computadores. Seja como for, a avaliação atual é de que eles armazenam um volume de água superior a 1 milhão de vezes o dos mares terrestres.

Enfim, uma última palavra sobre os cometas, que também carregam quantidades consideráveis do precioso líquido. Mesmo porque eles são númerosíssimos: os que passeiam nas cercanias do Sol são minoria ínfima. Nas fronteiras do sistema solar, em contraposição, há uma nuvem de 100 bilhões de cometas, com bastante água para encher 10 vezes os oceanos terrestres. Em média, 90% da massa desses astros compõe-se de gelo. Verdadeiros icebergs do vácuo, eles flutuam muito além da órbita de Plutão, protegidos da luz solar, e quando despencam para o centro do sistema são desmanchados pela luz solar. Então mostram seus componentes: moléculas e grãos de poeira na forma original que a matéria cósmica teria antes de se transformar em corpos sólidos de grandes dimensões - os planetas. A água, desse modo, seria anterior à formação do sistema solar. Onde estariam suas verdadeiras fontes? Na próxima edição você vai conhecer algumas delas, jorrando água em proporção monumental pela Galáxia. Prepare-se, por exemplo, para ser ofuscado pela possante luz dos lasers de água em sistemas planetários em formação.
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