sábado, 8 de setembro de 2012

Humanos modernos foram maior ameaça a Neandertais que desastres naturais


RICARDO BONALUME NETO
Cinzas de erupções vulcânicas de 40.000 anos atrás em camadas invisíveis ao olho humano indicaram que a extinção do homem de neandertal se deveu mais à competição com seres humanos anatomicamente modernos do que por culpa dos efeitos nocivos de mudanças climáticas.
O homem de neandertal vivia principalmente no Oriente Médio e na Europa. Um dos mais polêmicos debates na evolução humana diz respeito ao seu fim; foram dizimados em conflitos ou pela competição por recursos com os homens modernos, se misturaram sexualmente com eles ou foram vítimas de uma erupção vulcânica?
"Durante o último estágio glacial, entre cerca de 100.000 anos atrás e 30.000 anos atrás, humanos anatomicamente modernos migraram da África para eventualmente chegar na Europa, ficando cada vez mais em contato com os neandertais que já habitavam o local", escreveram os 42 pesquisadores de instituições de oito países liderados por John Lowe, da Universidade de Londres, em artigo na revista científica americana "PNAS".
Os registros fósseis indicam que os neandertais tiveram um declínio marcante da população há cerca de 40.000 anos e tinham praticamente desaparecido dez milênios depois. O período foi marcado por grandes oscilações do clima; nos momentos mais frios, os seres humanos antigos migraram de boa parte do norte europeu.
Muitos pesquisadores consideram o clima a principal causa do fim dos neandertais. A enorme erupção vulcânica de 40.000 anos atrás lançou tanta cinza no ar, bloqueando a luz solar, que produziu um "inverno vulcânico". Estima-se que a erupção liberou entre 250 a 300 quilômetros cúbicos de cinza na atmosfera.
Lowe e colegas analisaram depósitos de cinzas conhecidos como "piroclastos" de locais variados na Europa _o que ajuda a explicar o tamanho da equipe de pesquisadores: Grécia, mar Egeu, Líbia, vários locais na Europa central. As cinzas permitem sincronizar os registros fósseis com os climáticos durante o período de transição das populações humanas na pré-história europeia.
Os resultados indicaram que os neandertais começaram a desaparecer antes da erupção e da mudança climática, e que os humanos modernos já estavam ocupando significativas áreas da Europa e Norte da África no momento da erupção.
A migração do homem anatomicamente moderno foi também associada a desenvolvimentos culturais que os neandertais nem sempre conseguiam acompanhar, como melhores ferramentas e armas de pedra, objetos rituais e, provavelmente, redes sociais que permitiam melhor coesão e cooperação no grupo.
"Nossa evidência indica que, em uma escala continental, os humanos modernos eram uma maior ameaça competitiva para as populações autóctones do que a maior erupção vulcânica conhecida na Europa, mesmo que combinada com os efeitos combinados do esfriamento climático", escreveram Lowe e sua equipe na "PNAS".

FOLHA DE S.PAULO