quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mudanças climáticas levarão a uma menor formação de nuvens?

Novo estudo se concentra na relação misteriosa entre nuvens e clima e descobre que um planeta mais quente pode resultar em menos nuvens
por Katherine Harmon
NASA
Céu limpo pela frente? Pesquisadores ainda investigam qual a função das nuvens na mudança climática
Não é tão fácil encontrar vestígios passados de nuvens quanto de dióxido de carbono. Mas, assim como o CO2, as nuvens desempenham um papel importante na mudança climática: podem tanto reter calor na atmosfera, aumentado o efeito estufa, quanto refletir a luz solar de volta para o espaço, resfriando o planeta.

Então, as nuvens contribuirão para a mudança climática ou ajudarão a atenuá-la? “Neste momento, não entendemos qual é essa relação,” explica Anthony Del Genio, cientista atmosférico da Nasa, que trabalha no Instituto Goddard de Estudos Espaciais, na cidade de Nova York.

Mas um novo estudo, publicado na revista Science, dá mais um passo adiante para a compreensão dessa complicada dinâmica, que será vital para se entender detalhadamente como nosso planeta será daqui décadas e séculos.

Quando se trata de prever as mudanças climáticas, nem todas as nuvens são formadas igualmente, ressalta a principal autora da pesquisa, Amy Clement, da Escola Rosentiel de Ciência Marinha e Atmosférica, da University of Miami. Segundo a cientista, as nuvens mais altas, como as cumulonimbus, produzem um efeito estufa (gerando umidade e re-emitindo radiação para a superfície), ao passo que as mais baixas agem de forma semelhante a um guarda-chuva, protegendo a Terra dos quentes raios solares.

Clement e sua equipe examinaram as nuvens estratiformes de baixa altitude sobre o nordeste do Oceano Pacífico. Pela comparação de conjuntos independentes de dados observacionais, acumulados durante os últimos 50 anos por navegantes e satélites, eles esperam entender como os relatos de cobertura de nuvens se relacionam com a temperatura e circulação do vento – e vice-versa. Para a surpresa desses pesquisadores, as observações marinhas e espaciais eram incrivelmente semelhantes, o que contribuiu para o crédito dessas fontes de dados, tachadas por muitos como não confiáveis.

A equipe sistematizou um modelo de clima (no Centro Hadley de Mudanças Climáticas, localizado no Reino Unido) que complementou muito bem seus dados. Esse modelo mostrou que o aquecimento das temperaturas da superfície e a diminuição da circulação de ar – tendências que devem ser mantidas num clima em mudanças – levam a uma menor quantidade de nuvens de baixas altitudes. E isto quer dizer temperaturas ainda mais altas na superfície terrestre.

Mas há ainda muito mais trabalho ainda a ser feito. “Acho que é um fragmento muito impressionante de análise observacional”, afirma Del Genio, que não integrou o estudo. “É a primeira vez que se demonstram essas mudanças através das décadas.” No entanto, complementa, o único modo de sustentar essas conclusões experimentais é a identificação de mais modelos.

É difícil estabelecer um modelo para as nuvens de baixa altitude, admite Clement. “São formadas em uma escala microfísica.” Segundo a pesquisadora, o modelo do Hadley provavelmente foi o mais bem-sucedido, pois continha o maior número de informações sobre os complexos processos ocorridos na atmosfera inferior, onde há contato com a superfície terrestre (uma região, explica Clement, para a qual é muito mais difícil de se construir um modelo do que para a circulação em larga escala presente na atmosfera superior).

E, como sempre, há a questão de como relacionar os eventos climáticos cotidianos às tendências climáticas a longo prazo. Como Clement ressaltou, “ao observar hora a hora os processos que acontecem nas nuvens, obtém-se um quadro muito complexo”. Porém, “os dados, ao serem analisados em uma escala de tempo de décadas, parecem resultar neste quadro muito simples: quando a superfície oceânica está quente e a circulação, pouca, a cobertura de nuvens é reduzida”.

O etanol do milho é prejudicial ao clima?

O governo Obama diz não, a Califórnia diz sim. Quem está com a razão?
por Douglas Fischer*
ISTOCKPHOTO/SVENGINE
Obama deu sinal verde para o etanol de milho, apesar das preocupações da Califórnia
O governo Obama recentemente deu sinal verde para o etanol de milho como combustível renovável de baixo teor de carbono. A decisão é uma aparente contradição à declaração da Califórnia, no verão passado, de que a pegada de carbono do biocombustível é grande demais para mitigar a emissão de gases de efeito estufa do estado.

Reguladores e peritos em políticas insistem na inexistência de um conflito: as duas regras obedecem à ciência; é simplesmente uma questão de em que ano se começa a contabilizar as emissões.

De fato, o timing é tudo. A Califórnia verificou suas atuais emissões associadas ao etanol de milho e concluiu que eram demasiado elevadas.

A Casa Branca, visando triplicar a produção anual para 163,29 bilhões de litros por ano em 12 anos, baseou sua decisão em projeções para o ano 2022. O governo presumiu que uma produtividade maior, mais eficiência de produção e novas descobertas mitigariam as emissões.

“Não existe conflito”, declarou Stanley Young, um porta-voz do California Air Resources Board (CARB), o órgão californiano que executa a primeira iniciativa nacional contra o aquecimento global. “Utilizamos metodologias diferentes”, alegou. “Além disso, indicamos que há vários caminhos para produzir etanol de milho com volumes de carbono que se encaixam em nossos padrões”, acrescentou. “Nem todos os etanóis são criados iguais”.

A decisão suscitou algumas dúvidas – e ceticismo – entre os peritos, que questionam se o governo não teria aproveitado uma folga política, propiciada pelas projeções futuras, para chegar a uma conclusão politicamente expediente.

“À primeira vista, isso parece um tanto duvidoso”, diz Nathanael Greene, diretor da política de energia renovável do Natural Resources Defense Council (NRDC). “Você pode até acreditar nisso, mas de todo modo, eles fazem muitas projeções sobre como será a produtividade, como estará o mercado”.

“O resultado é que as coisas parecem bem mais positivas naquele ano (2022) que a Califórnia calcula”.

Para atender ao padrão renovável do país, o “ciclo de vida” de emissões de carbono de um combustível deve estar pelo menos 20% abaixo do da gasolina. Calcular esses custos é complicado. As lavouras de plantas que geram combustíveis tendem a substituir as que produzem alimentos, e isso origina novas emissões à medida que os fazendeiros derrubam florestas e cultivam terras previamente intocadas para atender à demanda de alimentos.

Essas emissões podem ser consideráveis. Um artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences concluiu que o Brasil corre o risco de contrair uma dívida de carbono de 250 anos, com base no desmatamento esperado até 2010, à medida que o país expande sua produção de álcool de cana-de-açúcar e biodiesel de soja.

Os pesquisadores estão céticos quanto às alegações federais de que os avanços do etanol serão suficientes para compensar as emissões associadas ao desalojamento de lavouras de alimentos.

“Isso não é consistente com o que tenho lido em publicações revisadas por iguais”, declarou David Tilman, um professor de Ecologia da University of Minnesota, que estudou o conflito entre os biocombustíveis e as lavouras de alimentos.

“Você pode fazer projeções muito otimistas sobre produtividades futuras, mas se verificar as tendências passadas verá que até durante a Revolução Verde os aumentos foram insuficientes para atender às demandas que teremos no futuro”.

Evidências recentes, vindas do Brasil, sustentam esse ponto. Uma equipe de pesquisadores, chefiada por David Lapola, da Universidade de Kassel, na Alemanha, constatou que 90% da expansão brasileira de cana-de-açúcar, nos últimos cinco anos, desalojaram terras de pastagens, forçando os criadores de gado a avançar floresta adentro. O grupo de Lapola concluiu que o plano do Brasil, de ampliar suas lavouras destinadas a biocombustíveis na próxima década, forçará as áreas de pasto a penetrar em mais de 121.730 km2 de florestas e outros 45.998 km2 de habitats indígenas.

Isso equivale a uma área igual a dos estados de Nova York e New Jersey combinados.

“Parece que no caso do etanol de milho americano, haverá muito atrito (inclusive a utilização indireta de terras) com as lavouras de produtos alimentares, não só nos Estados Unidos, como no exterior”, Lapola informou via e-mail, da Alemanha.

O governo Obama insiste em ter utilizado a ciência mais recente e precisa. Ao falar à imprensa, quando a mudança foi anunciada, o Secretário da Agricultura Tom Vilsack frisou que a ciência da produtividade de lavouras “está evoluindo constantemente”.

A administradora da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) Lisa Jackson defendeu os cientistas de seu órgão governamental em meio a acusações de que a instituição cedeu a pressões do lobby agrícola. “Não concordo que tenhamos mudado a ciência para adaptá-la a qualquer resultado”, declarou ela. “Eu não assinaria uma norma se não acreditasse que tivéssemos atendido às exigências da lei”.

Mas, sob certos aspectos, a economia de carbono derivada do etanol de milho pode ser um ponto secundário – ou até mesmo questionável.

Ao anunciar a mudança de política, o governo ressaltou o potencial do biocombustível para criar empregos e proporcionar independência energética. Falando a governadores, o presidente Obama mencionou a mudança climática apenas uma vez: “mesmo que não acreditem na severidade da mudança do clima, como eu, ainda assim vocês deveriam seguir esta agenda”.

Além disso, o governo – e muitos na indústria do etanol – encaram o combustível à base de milho como uma ponte para biocombustíveis menos intensivos em carbono. “Acreditamos que este é o rumo do mercado”, disse Vilsack.

Mas a pressão para desenvolver etanol de milho tem um preço e Greene, do NRDC, questiona se essa é a política mais sábia. “É tolice fazer o que estamos fazendo hoje, que é mandar, conceder múltiplos créditos de impostos e outros subsídios governamentais”, ponderou ele. “Estamos subornando o mercado... Isso são US$ 5 bilhões por ano que poderíamos utilizar para ajudar nossos fazendeiros e nossa indústria a desenvolver a próxima geração desse material”.

Referindo-se ao Brasil, Lapola observou que alguns biocombustíveis não têm a enorme pegada de carbono, deixada pela cana-de-açúcar, a soja ou o milho. Mas enquanto os governos mantiverem um rigoroso controle sobre mudanças no uso de terras, ele acredita que os biocombustíveis constituem uma boa opção para contornar a necessidade de combustíveis derivados do petróleo.

“Uma forma de contornar, mas não uma solução completa”, acrescentou. “O fato é que, a partir de agora, precisamos avaliar mais cuidadosamente nossa matriz energética para não incorrer nos mesmos erros que cometemos com o petróleo”.


*Esse artigo foi publicado originalmente em The Daily Climate, a fonte de notícias sobre mudanças climáticas da empresa de mídia sem fins lucrativos, Environmental Health Sciences.

Fósseis revelam dinossauros aquáticos

Os hábitos semiaquáticos dos espinossauros os ajudaram a coexistir com os tiranossauros
por Matt Kaplan
Marc Simonetti
Espinossauros podem ter passado muito tempo das suas vidas na água
Alguns pesquisadores encontraram evidências de dinossauros que passavam muito tempo na água. Essa descoberta, feita ao se analisarem isótopos de oxigênio encontrados nos fósseis de um espinossauro que se alimentava de peixes, demonstra como o dinossauro deve ter coexistido com outros grandes predadores, como os tiranossauros.
Os resultados, publicados na revista Geology, por Romain Amiot, da Universidade de Lyon na França, e uma equipe de colegas, demonstram que os dinossauros não estavam, na verdade, restritos à terra como se pensava anteriormente.

Animais aquáticos, como os plesiossauros e os ictiossauros, que, embora pareçam com dinossauros, não fazem parte da linhagem dos dinos.
Baryonyx walkeri, da família dos espinossauros, possui um crânio longo e parecido com o de um crocodilo, cheio dos característicos dentes em formato de cone. Quando ele foi encontrado, as teorias eram que, com esses dentes perfurantes, em vez dos dentes serrados normalmente encontrados em carnívoros aparentados, como o Tyrannosaurus rex, e um focinho grande, esse dinossauro se alimentasse de peixes.

Evidências de um comportamento piscívoro vieram com a descoberta de escamas de peixe parcialmente digeridas no estômago fossilizado dentro de um esqueleto de Baryonyx escavado na Inglaterra em 1983. Mas os conteúdos estomacais também continham restos de dinossauros, e outras evidências posteriores demonstram que os pterossauros também eram parte da dieta dos espinossauros, tornando a questão mais complicada. A ausência de barbatanas, membranas entre os dedos das patas ou caudas propulsoras perceptíveis também não sugeriam um modo de vida aquático.

Isso levou Amiot e seus colegas a procurarem isótopos de oxigênio presos dentro do esmalte dos dentes do espinossauro e compará-los com os isótopos de oxigênio encontrados nos dentes dos crocodilos e outros dinossauros e em fragmentos de cascos de tartarugas do mesmo período.
Animais que passam muito tempo em um ambiente seco perdem água na respiração e na evaporação pela pele. Pelo fato de o oxigênio-16 ser mais leve do que outro isótopo – o oxigênio-18 –, ele é liberado de forma mais frequente com o vapor d\\'água. Em consequência, o oxigênio-18 se torna mais concentrado nos tecidos e no momento da formação do esmalte dos dentes.

Estando submersos grande parte do tempo, animais aquáticos perdem menos água do que os terrestres, e, portanto, o oxigênio-18 possui uma concentração relativamente menor nos seus tecidos. Animais aquáticos também bebem e urinam mais rapidamente que os animais terrestres; essa lavagem constante com água doce mantém as concentrações de oxigênio-18 baixas.

Os pesquisadores raciocinaram que, se os espinossauros fossem aquáticos, a concentração de oxigênio-18 nos seus tecidos iria ser bastante parecida com a de animais aquáticos como os crocodilos e as tartarugas, e seria bem menor que os valores dos isótopos de outros animais.

Para ver se esse era o caso, a equipe coletou dados de isótopos de 133 espécimes do Cretáceo – mistura de espinossauros, outros dinossauros, crocodilos e tartarugas – em quatro continentes diferentes. Eles relataram que os espinossauros apresentaram valores de oxigênio-18 1,3% menores que os encontrados em dinossauros terrestres – uma diferença estatisticamente significativa. Ao contrário, os valores de oxigênio-18 em crocodilos e espinossaurídeos não diferiram de forma significativa. A equipe argumentou que isso indica que os espinossauros viviam em ambientes aquáticos.

“Essa é uma ilustração intrigante de como as análises cuidadosas do isótopo podem ser utilizadas para diferenciar os ambientes nos quais os dinossauros e outros organismos viviam”, afirma o paleontologista Michael Benton, da University of Bristol, no Reino Unido.
Uma objeção em potencial contra as novas descobertas é que uma dieta composta, principalmente, de animais aquáticos como peixes, levaria à ingestão de comida inerentemente pobre em oxigênio-18 e faria com que os tecidos do espinossauro adquirissem valores de oxigênio-18 baixos.
No entanto, Amiot argumenta que “mesmo se os espinossauros comessem somente peixes e fossem animais terrestres, eles evaporariam a água desses peixes ingeridos pela pele e pela respiração e terminariam com uma assinatura isotópica terrestre”.

“O método que eles estão usando é sutil e controverso, mas, com o resultado repetido em numerosos espécimes de espinossauros de tantas localidades diferentes, ele pode muito bem estar certo”, afirma Benton.
No entanto, para alguns, é o visual não aquático do esqueleto do dinossauro que é difícil de ignorar. “Eu não duvido dos dados de isótopos, mas se eles viviam na água, eu fico perplexo pelos espinossauros não terem membros modificados para propulsão aquática, ou caudas flexíveis e propulsoras observadas tipicamente em animais aquáticos”, questiona Paul Barret, um paleontologista do Natural History Museum em Londres.

Amiot não consegue responder essa pergunta ainda, mas ele está disposto a começar a investigar o momento no qual os espinossauros começaram as suas vidas aquáticas, e espera que uma compreensão de quais forças os levaram para a água possa explicar de forma mais acertada os mistérios que ainda Os hábitos semiaquáticos dos espinossauros os ajudaram a coexistir com os tiranossauros permanecem sobre o grupo.

Scientific American Brasil


quinta-feira, 11 de novembro de 2010


Água da privada é potável?

por Texto Michele Silva

Não. Nunca. Nem pense nisso. Se pensou “poxa, mas a caixa-d’água é a mesma, a louça é tão branquinha”, pensou errado. E, se agiu antes de pensar, deve procurar um médico. Sério, existem formas mais higiênicas de chocar a sociedade burguesa.

De acordo com o biólogo e professor de saúde ambiental da USP José Luiz Negrão Mucci, seres humanos que beberem água do vaso podem ter graves complicações (cachorros e gatos são mais resistentes). “Ali há protozoários e bactérias que podem causar diarréia, hepatite e infecções que ficam no organismo durante um longo período”, diz. Além disso, o cloro colocado pelos órgãos de tratamento da água não tem a concentração suficiente para matar todos os germes que ficam no vaso.

Mesmo que a idéia de matar a sede na privada nunca tenha passado pela sua mente sã, é preciso tomar cuidado, pois objetos próximos do trono também podem ser contaminados. Em alguns exames, foram encontrados micróbios de origem fecal nas cerdas de escovas de dentes. A origem, claro, era a privada, provavelmente porque alguém deu descarga com a tampa aberta, lançando bactérias pelo ambiente.

Mas, calma, não precisa jogar no lixo tudo que estiver sobre a pia do banheiro. O biomédico garante que os desinfetantes e a limpeza regular matam as bactérias, e o risco de contaminação é pequeno. “É um dos locais menos contaminados, porque é limpo regularmente”, diz. Mas, por precaução, é bom manter objetos de uso pessoal protegidos no armário.

Revista Superinteressante

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O que é gordura trans?


O que é gordura trans?
Parece perfeito. Mas não é. A trans, segundo estudos recentes, é a gordura que mais contribui para a formação de placas nas artérias – e para o aumento da pressão arterial e dos riscos de infarto ou derrames.
por Marina Bessa
É uma gordura formada a partir de um processo de hidrogenação artificial feito nas indústrias. Sob alta pressão e temperatura, adiciona-se hidrogênio às moléculas de gordura. “O óleo se torna uma gordura mais consistente e mais durável”, diz Denise D’Agostini, farmacêutica da USP. Parece perfeito. Mas não é. A trans, segundo estudos recentes, é a gordura que mais contribui para a formação de placas nas artérias – e para o aumento da pressão arterial e dos riscos de infarto ou derrames.
Por isso, desde o dia 31 de julho deste ano, as empresas estão obrigadas a discriminar a quantidade de trans nos rótulos dos alimentos industrializados. “Só não está especificado o valor diário de ingestão, já que não existe uma recomendação de consumo dessa gordura”, diz Vivian Buanacorso, nutricionista do Hospital das Clínicas de São Paulo. Na verdade, recomenda-se que se ingira o mínimo possível: no máximo 2 gramas por dia (duas bolachas recheadas já estouram esse limite).
Com medo de perder consumidores, a indústria está atrás de outros jeitos de solidificar óleos sem arrasar corações. A mais nova vedete dos químicos é a interesterificação, processo que aumenta o ponto de fusão das gorduras sem alterar sua estrutura básica. É com ela que se faz, por exemplo, as margarinas sem trans que já existem no mercado. A tecnologia é um pouco mais cara, mas essas novas gorduras não fazem nenhum mal à saúde. Até que alguma pesquisa mostre o contrário.

Segura o trans
Conheça as diferenças entre as gorduras encontradas nos alimentos
Saturada
Como é: Só existem ligações simples entre os átomos de carbono. Dessa forma, há o máximo de hidrogênio possível na cadeia.
O que faz: Aumenta o nível de colesterol do sangue. Esse colesterol é depositado pela lipoproteína LDL nos vasos sanguíneos, inclusive nos do coração e do cérebro.
Onde é encontrada: Em carnes, leites e seus derivados.
Insaturada
Como é: Tem ligações duplas entre seus carbonos. Se há só uma ligação, chama-se monoinsaturada; se há duas ou mais, ela é poliinsaturada.
O que faz: Aumenta os níveis da lipoproteína HDL, também conhecida como “colesterol bom”, que tira o colesterol do sangue sem acumulá-lo nos vasos do coração.
Onde é encontrada: Em óleos vegetais, castanhas e peixes de águas frias, como sardinha, salmão e truta.
Trans
Como é: Geralmente é aquela que recebe doses extras de hidrogênio. Mas também há um teor pequeno dela na carne e no leite de animais ruminantes.
O que faz: Aumenta os índices de LDL, diminui os índices de HDL e ainda toma espaço do ômega 3 e do ômega 6 (gorduras vitais que não são produzidas pelo nosso organismo).
Onde é encontrada: Largamente utilizada em alimentos industrializados, sorvetes e frituras.
Revista Superinteressante

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Todos os sentidos

Todos os sentidos
Associar cheiros a imagens, apalpar as cores, sentir o gosto dos sons. A sinestesia mais parece resultado de uma experiência lisérgica. Trata-se, no entanto, de uma rara condição neurológica que ainda confunde a ciência.
Eu sinto uma forma orgânica, quase redonda, com a consistência de um cogumelo. Posso colocar meus dedos em pequenos buracos na sua superfície. Não é uma imagem mental. Eu não vejo nada. Eu não imagino nada. Eu sinto isso nas minhas mãos, como se estivesse bem na minha frente. Daí as formas se desenvolvem, surge uma espécie de corda; se eu coloco a mão nessa corda, sinto as folhas oleosas de uma pequena parreira.” É assim que Michael Watson, professor na Carolina do Norte, resume o sabor da angustura, composto aromático que reúne dezenas de ervas amazônicas, utilizado em drinques famosos como o Manhattan – que também leva uísque, vermute tinto e cereja. A descrição está no livro The Man Who Tasted Shapes (“O homem que saboreava formas”, inédito no Brasil), escrito em 1993 pelo neurologista americano Richard Cytowic.
Watson tem sinestesia, uma condição neurológica que faz com que um estímulo em um sentido provoque reações em outro, numa espécie de análise combinatória entre visão, audição, olfato, paladar e tato. Sinestetas ouvem cores e sentem sons, por exemplo. “As sensações ocorrem ao mesmo tempo, sem que uma substitua outra. Há sempre uma adição, nunca uma troca”, afirma Peter Grossenbacher, neurologista americano que estuda a sinestesia.
A esta altura, você que ouve falar em férias e logo visualiza o litoral baiano ou que não pode sentir cheiro de polenta que enxerga sua avó debruçada sobre o fogão, deve estar se achando o próprio sinesteta. Mas não é tão simples. A maioria de nós é capaz de relacionar uma imagem a um som, ou a um cheiro. “A diferença é que fazemos isso a partir da memória”, diz John Harrison, pesquisador da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ou seja: não há confusão sensorial.
Harrison explica que, no caso da experiência visual convencional, existem três modalidades distintas: a imagem pode ser percebida pela retina (cor, forma e movimento); pode ser imaginada, no chamado olho da mente (como fechar os olhos do seu quarto): ou ainda pode ser fruto de alucinação, isto é, uma imagem que simplesmente não está lá. Ele acredita que as imagens sinestésicas sejam semelhantes às que produzimos durante o sonho. “No sonho, elas não são criadas pela retina, mas, sim, como tem sido comprovado por exames de eletroencéfalograma, por meio de pulsos nervosos e eletroquímicos”, afirma. Segundo John Harrison, drogas alucinógenas, como LSD, são capazes de produzir sensações sinestésicas. Porém, ao contrário da sinestesia real, as alucinações são totalmente imprevisíveis e não seguem um padrão cognitivo pré-determinado, isto é, as imagens das viagens de ácido podem variar em dois sentidos distintos, com base no mesmo estímulo. Na sinestesia de nascença, isso não ocorre.
Segundo Grossenbacker, a visão de um sinesteta normalmente são percebidas fora do corpo. “As cores e os movimentos se formam em uma espécie de tela virtual, localizada a cerca de meio metro de distância do olhos”, afirma. As descrições das cores de uma experiência sinestésica são simples – restringindo-se a formas geométricas, cores e texturas – porém detalhadas. Não simplesmente azul, mas azul-escuro, com brilho e textura de pequenos losangos alaranjados, por exemplo.
No nosso dia-a-dia, a mistura das sensações está presente na linguagem: é comum utilizarmos mais de um sentido para explicar as coisas como elas nos parecem. Descrevemos pessoas como doces ou amargas e as cores (estímulos visuais) podem ser quentes ou frias (sensações táteis). A essa estratégia lingüística também chamamos sinestesia. E aqui o termo, além de significar uma condição neurológica, passa a expressar também uma figura de linguagem.
Essa capacidade estilística de combinar sensações fez da sinestesia um recurso de estreita relação com o universo literário e artístico. Um namoro que se tornou mais intenso nos poetas simbolistas, como o francês Charles Baudelaire (1821-1867) ou o brasileiro Cruz e Sousa (1861-1898).
Mas para os portadores da sinestesia neurológica não se trata de poesia. Com eles, algo físico acontece. Eles são capazes de vivenciar as diferentes sensações de forma única e surpreendente. Sean Day, professor de lingüística na Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, compilou casos descritos na literatura médica e observou 35 tipos de sinestesia. O mais comum é associar cores a grafemas, isto é, ver uma cor ao ler uma letra, palavra ou número. “Alguns sinestetas apresentam mais de dez formas de sinestesia, porém o padrão normal é um ou dois tipos se destacarem em cada paciente”, afirma Grossenbacher.
O que causa sinestesia?
Mas, afinal, por que pouquíssimas pessoas desenvolvem a sinestesia, enquanto a imensa maioria não é sequer capaz de entendê-la? Não há consenso no meio científico e existem pelo menos seis teorias disponíveis. Para John Harrison, que ao lado de Simon Baron-Cohen, chefe dos departamentos de Psiquiatria e Psicologia Experimental da Universidade de Cambridge, nos Estados Unidos, defende a tese de que todos somos sinestetas até os três meses de idade mais ou menos. A partir daí e até os seis meses de vida, os neurônios são definitivamente isolados uns dos outros, por uma camada de gordura chamada mielina. “Nos sinestetas, ela aparece em menor grau, dando origem a essa hipersensibilidade”, afirma Harrison.
Em exames de tomografia, a dupla de cientistas ingleses constatou que em sinestetas que possuem audição colorida – isto é, enxergam padrões de cores quando estimulados por sons – um elemento sonoro produz atividade cerebral nas áreas dedicadas tanto à audição quanto à visão. Em não-sinestetas registra-se atividade cerebral apenas na região dedicada à audição.
Eles estimam que exista um sinesteta em cada grupo de 2 000 indivíduos. (Algo como 90 000 pessoas, só no Brasil.) A maioria dos casos ocorre em mulheres – cerca de 75% – e é provável que a transmissão seja genética. Harrison, autor do livro Synaesthesia: The Strangest Thing (“Sinestesia: a mais estranha das coisas”, inédito no Brasil), lançado em 2001, sugere que quando o pai é sinesteta, as filhas sempre herdam a condição.
Os códigos de conexão entre as sensações de cada sinesteta são absolutamente pessoais e não variam ao longo do tempo. Isso quer dizer que não existe um dicionário de equivalência som-cor. Para garantir a consistência e a autenticidade da experiência sensorial, Harrison conduziu testes idênticos em sinestetas e não-sinestetas. Para cada som, a pessoa descrevia as cores e/ou imagens que percebia. Um ano depois, foi feita a contraprova. Os sinestetas, que não foram alertados sobre a repetição da experiência, produziram respostas consistentes em mais de 95% dos casos. Já o grupo de controle, formado por não-sinestetas, apesar de ter sido avisado que a experiência seria repetida apenas um mês depois, acertou menos de 30% das respostas. Harrison estudou duas gêmeas univitelinas, ambas sinestetas, e cada uma delas via cores diferentes para um mesmo estímulo sonoro.
Richard Cytowic afirma, no entanto, que a sinestesia ocorre porque partes do cérebro estão desconectadas umas das outras, a exemplo do que ocorre durante as alucinações. Segundo ele, é possível traçar uma analogia com as enxaquecas, pois em ambas condições um estímulo acarreta o que chama de rebalanceamento do metabolismo regional, ou uma alteração física do funcionamento da região do sistema límbico.
Cytowic é um neurologista pouco ortodoxo, que defende que o médico fale menos e escute mais, utilizando exames clínicos apenas para confirmar um diagnóstico. Isso reduziria a excessiva dependência tecnológica de aparelhos cada vez mais sofisticados, que estaria reduzindo o médico a ser, no limite, apenas um técnico bem informado. Ele acredita que o impacto da sinestesia é tão profundo que não se enquadra na concepção normalmente aceita do funcionamento do cérebro.
Em um aspecto, Cytowic concorda com Baron-Cohen e Harrison: o estudo da rara e fascinante condição neurológica da sinestesia pode ajudar a ciência a compreender como todas as pessoas ouvem, pensam e sentem. Portanto, é preciso trazer essa linha de pesquisa para debaixo dos holofotes da ciência.
Experiência única?
Na infância, os sinestetas têm certeza absoluta que todos percebem o mundo à sua maneira. Quando perguntam para colegas de escola ou familiares, coisas como “Qual a cor do seu cinco?”, recebem como resposta uma cara de espanto, gargalhadas, ou algum comentário maldoso. “Sempre tive sinestesia. Mas não falava com ninguém, pois as pessoas me achavam louca. Até que li um artigo no The New York Times e na hora exclamei: ‘Sou eu!’ Agora que sei que não sou louca, é bem divertido”, diz Cynthia Cochran, terapeuta residente na Geórgia, nos Estados Unidos. Mas se a vida com sinestesia pode ser muito diferente da nossa, não é comum ouvir um sinesteta reclamar de sua condição especial.
As sensações desencadeadas pela sinestesia geralmente são agradáveis e, salvo raras exceções, apenas ajudam a perceber melhor o mundo. “Essas pessoas não querem se livrar da condição por nada nesse mundo. Elas acham que sua vida é enriquecida pela maior capacidade sensorial”, afirma Lynn C. Robertson, do departamento de psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos. Segundo ela, os sinestetas são dotados de memória superior à média, pois costumam associar informações às sensações sinestésicas causadas por elas. “Grafia e gramática são naturais para mim. Percebo na hora quando uma palavra está grafada incorretamente, ou se há um erro de gramática. As cores simplesmente não batem. Minha sinestesia é muito útil”, diz a pintora nova-iorquina Carol Steen, que enxerga cores em letras e números.
Há, claro, exceções. Anina Rich, pesquisadora do Departamento de Ciência do Comportamento, na Universidade de Melbourne, na Austrália, menciona uma sinesteta que se queixa de ouvir um som muito agudo, que causa dor de cabeça, quando vê uma cortina vermelha. A literatura médica inclui o caso de uma mulher que deixou o carro no meio da rua, pois as reações táteis de seu corpo aos estímulos visuais a impediam de guiar.
Se por um lado os sinestetas gostam de sua percepção ampliada do mundo, eles costumam, porém, evitar o excesso de estímulos. “Alguns procuram se manter afastados de ambientes barulhentos, aglomerações humanas e lugares lotados”, diz Grossenbacker. Um desconforto para sinestetas que associam letras escritas a cores, por exemplo, é a interferência das cores das palavras escritas que diferem do código de cada sinestésico de cada um. Ou seja, quando a cor da letra A provoca a sensação do azul-escuro mas está escrita em amarelo o cerébro pode confundir os estímulos. É algo parecido com o incômodo que sentimos ao escutar duas músicas distintas em cada um dos fones de ouvido, ou quando olhamos isoladamente para duas fotos diferentes, uma com cada olho.
A experiência sinestésica é de difícil apreensão para os não-sinestetas. As pessoas podem entender a sinestesia racionalmente. Porém, ironicamente, ela se trata exatamente do oposto: uma sensação absolutamente subjetiva. O próprio John Harrison, um dos maiores especialistas do mundo no assunto, é humilde quando afirma que não é capaz de sentir como um sinesteta. “Seria como descrever a visão para um cego de nascença. Ele pode entender racionalmente como funciona a visão e até mesmo como o cérebro produz imagens na retina, mas jamais terá a sensação de enxergar”, diz.

Você tem sinestesia?
A sinestesia geralmente é diagnosticada por meio de relatos e entrevistas. A seguir cinco pontos importantes que são considerados pelos especialistas.
A sinestesia É involuntária
Se você ouve cores ou vê sons involuntários, essa é uma condição sinestésica. Não são todos sons ou imagens que acionam a sinestesia, porém um sinesteta geralmente não consegue bloquear a percepção, isto é, não existe um botão do tipo liga/desliga
A sinestesia é projetada
A percepção sinestésica é vivenciada fora do corpo. Isto é, não no olho da mente, mas, sim, a certa distância física bem próxima ao rosto do sinesteta
As percepções são duradouras, discretas e genéricas
As associações sinestésicas não se alteram com o passar do tempo. Isso quer dizer que um mesmo som sempre dá origem a uma mesma imagem. Discretas, pois não costumam interferir em outras atividades, tampouco represar o sentido original. E genéricas, pois as imagens costumam ter cores, formas geométricas e texturas simples: não são quadros surrealistas
A experiência sinestésica permanece na memória
Se você diz: “não sei o nome dele, mas tenho certeza que é verde”, eis uma indicação de que você pode ser sinesteta. A experiência sinestésica não apenas permanece na memória, como auxilia a registrar e recordar fatos, nomes, números etc.
A sinestesia é emotiva e vívida
Um autêntico sinesteta tem certeza de que a sua experiência sinestésica é real e a distingue de estímulos sensoriais.

Para saber mais
NA LIVRARIA:
Synaesthesia: The Strangest Thing
John Harrison, Oxford University Press, Reino Unido, 2001
The Man Who Tasted Shapes
Richard Cytowic, Abacus, Reino Unido, 1994
Synaesthesia: Classic and Contemporary Readings
Simon Baron-Cohen e John Harrison (org.), Blackwell, Reino Unido, 1996
Synesthesia: a union ofsenses
Richard Cytowic, Springer, EUA, 1989
NA INTERNET:
http://www.psychiatry.cam.ac.uk/isa/frames.html
http://www.zzapp.org/neuroman/
http://www.mit.edu/synesthesia/www/syn_refs.html

Revista Superinteressante

quarta-feira, 20 de outubro de 2010


A aspirina pode trazer benefícios ao coração?

por Juliana Pettinati, Sorocaba, SP

Ela não tem efeito direto sobre o coração, mas pode beneficiá-lo desde que bem ministrada. O ácido acetilsalicílico substancia presente na aspirina, evita que as plaquetas – partículas do sangue com a função de coagulantes – se aglutinem. A aglutinação dessas partículas facilita a formação de coágulos, que obstruem as artérias e podem provocar ataques cardíacos. Mas a aspirina, para esses fins, só deve ser usada com indicação médica, e com dosagem especifica, por pacientes com predisposição à formação de coágulos. “Do contrario, os benefícios podem ser menores que os malefícios, já que o ácido é um irritante da mucosa do estômago, podendo provocar úlcera ou gastrite”, explica o cardiologista Miguel Nassif, do Instituto de Grastroenterologia de São Paulo.

Revista Superinteressante

O que é esclerose múltipla?


O que é esclerose múltipla?

É uma doença que atinge o cérebro e a medula espinhal, causando tremores, dificuldades em caminhar, problemas de visão e, em casos mais graves, paralisia.


Revista Superinteressante

domingo, 10 de outubro de 2010

População de lontras-do-mar está em perigo
Queda no número de nascimentos preocupa conservacionistas da Califórnia
por John Platt
Wikipedia
Causa da queda do número de lontras na Califórnia ainda é desconhecida
Populações de lontras-do-mar (Enhydra lutris nereis) do sul da Califórnia caíram pelo segundo ano consecutivo, incluindo uma dramática queda nos nascimentos, segundo novos números divulgados pelo U.S. Geological Survey (USGS). Ao mesmo tempo, o dinheiro necessário para estudar e ajudar a salvar essas lontras pode evaporar rapidamente em meio à crise por que o estado passa.

A mais recente contagem de 2010 contabilizou 2.711 indivíduos, queda de 3,6% da média do ano passado. O mais alarmante é que o número filhotes caiu 11%, aos níveis de 2003. Enquanto isso, o intervalo de lontras ao longo da costa da Califórnia já diminuiu 50 km, por razões ainda não descobertas.

Embora não exista nenhuma razão clara para o declínio, a redução em série é conhecida por possíveis causas: "Os dados sugerem que fêmeas na idade de reprodução estão morrendo em número maior que o habitual por múltiplas causas, incluindo doenças infecciosas, exposição a toxinas, insuficiência cardíaca, desnutrição e ataques de tubarão", disse Tim Tinker, cientista do projeto de pesquisa da USGS. Tinker é professor-adjunto da ecologia e biologia evolutiva na University of California Santa Cruz (UCSC).

Existem algumas dúvidas sobre a nova conta. O Projeto Lontra – com sede em Monterey, Califórnia – aponta o total de 2.711 lontras, ligeiramente acima do ano passado. Mas os autores do estudo não acreditam ser um sinal de que os animais estejam mais saudáveis: "A contagem é sempre ligeiramente acima, o que é um bom sinal. Mas o número de crias está acentuadamente baixo, o que é um mau sinal. E os encalhes até esta data são muito ruins”, afirmou Steve Shimek, fundador do Projeto Lontra.

Tinker está conduzindo um novo estudo pela UCSC para saber mais sobre os fatores que podem prejudicar a saúde das lontras-do-mar, porém o financiamento poderá em breve deixar de existir. Parte do dinheiro disponível para estudar esses animais e ajudar a salvá-los vem do Fundo de Pesquisa do Mar da Califórnia, que paga grande parte da pesquisa com espécies e é voluntariamente financiado pelas contribuições de empresas e pessoas físicas. As doações deste ano chegaram a apenas US$ 31 mil.

Felizmente esses animais têm sido protegidos pela Lei das Espécies Ameaçadas desde 1977. Eles só podem ser retirados da lista de espécies ameaçadas de extinção se a população for superior a 3090 indivíduos por três anos consecutivos.
Scientific American Brasil
Sequenciado o genoma do cacau
A versão pública do genoma está 92% concluída e já identificou cerca de 35 mil genes
por Katherine Harmon
Wikimedia Commons
Cacau: um dos dez maiores cultivos do mundo
Os fabricantes do M&Ms decodificaram uma receita para alguns dos seus produtos mais populares: o genoma da árvore do cacau (Theobroma cacao).

A sequência, publicada on-line no dia 15 de setembro e disponível gratuitamente para o público, foi montada pela Mars Inc. em parceria com o Departamento de Agricultura dos EUA.

A árvore de cacau (cujas sementes são usadas para fazer o chocolate) se une a outras culturas amplamente consumidas, como milho, trigo e arroz, que já tiveram seu genoma sequenciado. Muitos países produtores de cacau são relativamente pobres e não dispõem dos recursos necessários para o estudo genético avançado. A cultura está entre as 10 colheitas mais negociadas no mundo. A planta do cacau é cultivada em cerca de 17 milhões de hectares em todo o globo e o maior produtor, a Costa do Marfim, exportou cerca de 1,3 milhão de toneladas de sementes de cacau em 2005.

Os pesquisadores estão refinando os dados antes de submetê-los à revisão por colegas. Mas a versão on-line é "plenamente funcional", segundo Howard-Yana Shapiro, botânico da Mars e professor-adjunto na University of California. A versão pública do genoma está 92% concluída e já identificou cerca de 35 mil genes, segundo pesquisadores que trabalham no projeto.

Os cientistas admitem que o mapeamento do genoma do cacau realizado pela Mars "era de nosso interesse", diz Juan Carlos Motamayor, pesquisador e geneticista. Mas, observa ele, os dados também poderiam ajudar a impulsionar a subsistência dos trabalhadores que cultivam cacau e do processo, muitos dos quais vivem na pobreza e trabalham em pequenas propriedades.

Os criadores de cacau poderão começar a utilizar os dados da sequência para selecionar características, como produtividade e resistência, bem como melhorar defesas das plantas contra pragas, dizem os pesquisadores. Os cacaueiros levam vários anos para amadurecer e podem produzir os frutos por décadas. Com esperança de que a nova informação irá eventualmente ajudar os produtores a dobrar ou triplicar seus rendimentos, o genoma pode percorrer um longo caminho para a criação de "um modelo econômico que seja sustentável", observa Shapiro.

Mais resistentes, as culturas com melhor produção também poderiam “adoçar” os preços dos chocolates.
Scientific American Brasil
Fósseis de vírus revelam infecção de milhões de anos
Descoberta de traços genéticos da hepatite B melhora o conhecimento sobre a evolução viral
por Katherine Harmon
ISTOCKPHOTO/GLOBAL IP
Rastro genético do vírus está oculto no genoma dos pássaros modernos
Vírus são organismos que podem se adaptar rapidamente para ultrapassar as barreiras à infecção. Pesquisas recentes têm encontrado vestígios antigos de alguns vírus no genoma de determinados animais.

Um novo estudo descreve a evidência de umhepadnavírus (grupo de vírus que inclui hepatite B, que infecta os seres humanos, bem como outros mamíferos e algumas aves) oculto no genoma dos pássaros modernos. Os pesquisadores responsáveis pelo novo trabalho dizem que a estimativa pode ser de pelo menos 19 milhões de anos.

Esses fósseis, chamados virais, não são relíquias mineralizadas, mas sim pedaços de códigos genéticos lidos ao longo do genoma de um organismo hospedeiro. Um estudo realizado em julho descreve dezenas de exemplos de códigos virais no genoma dos vertebrados, muitos dos quais provavelmente existiram há cerca de 40 milhões de anos.

"Esses vírus são ‘fósseis’ de DNA e podemos colocar todos juntos novamente e ressuscitar espécies extintas", dizem os pesquisadores. "Sabemos que isso soa muito assustador, como ficção científica", acrescentam, "mas isso realmente pode responder as perguntas em termos da biologia do vírus".

Os pesquisadores podem quebrar a cabeça com os ossos fossilizados e discutir indefinidamente sobre se um hominídeo caminhava ereto ou não. Mas com o material genético de um vírus extinto na frente deles, eles podem recriá-lo em laboratório. O processo (feito em um cenário altamente protegido) poderá, eventualmente, revelar como essas “máquinas” foram capazes de sobreviver e prosperar com essas inserções.
Scientific American Brasil
Quer emagrecer? Durma mais e melhor
Estudo revela que boa noite de sono ajuda na queima de gorduras para quem faz dieta
por Katherine Harmon
iStockphoto/Mari
Ter uma noite de sono contínuo pode não parecer a melhor receita para perder peso, mas diversas pesquisas apontam a importância de ter um sono eficiente. Um novo estudo mostra que não dormir o suficiente pode comprometer severamente a capacidade das pessoas de perder gordura extra.

Pesquisadores descobriram que quando alguém em dieta tem uma noite de descanso completo, mais do que se duplica a quantidade de peso perdido das reservas de gordura. Pessoas cansadas também relataram sentir mais fome do que quando tinham tido uma boa noite de sono. Os resultados do estudo foram publicados no dia 4 de outubro no Annals of Internal Medicine.

"Dormir menos - comportamento onipresente na sociedade moderna - parece comprometer os esforços para a perda de gordura", disse Plamen Penev, professor-assistente de medicina na University of Chicago e coautor do estudo. Os participantes do estudo perderam cerca de 55% mais gordura quando o sono foi suficiente.

Para o estudo, 10 voluntários com excesso de peso (idades entre 35-49 anos e com um índice de massa corporal médio de 27,4 kg) iniciaram um plano alimentar personalizado, que reduziu calorias (para uma média de 1.450 por dia), mas mantiveram um estilo de vida sedentário. Durante duas semanas, os sujeitos relataram ter passado 8,5 horas por noite na cama (com um tempo médio de sono de cerca de 7 horas e 25 minutos), e, durante um segundo período de duas semanas, foram autorizados apenas a 5,5 horas por noite de sono (com um tempo médio de sono de 5 horas e 14 minutos).

Durante as duas sessões de estudo, os voluntários perderam cerca de 3 kg - quase metade da quantidade quando dormiam por mais tempo. O metabolismo é controlado em parte por hormônios, como a grelina, que estimula a fome e reduz o consumo de energia. Quando os sujeitos do estudo estavam dormindo menos de 6 horas, os níveis de grelina passaram de 75 nanogramas por litro para 84 ng/litro. Os níveis mantiveram-se estáveis quando os indivíduos tinham pleno descanso. Eles seguiram uma dieta rigidamente controlada mesmo com baixas calorias durante as duas fases do estudo e a diferença de peso e perda de gordura entre o sono adequado e poucas horas de sono poderia ser ainda mais acentuada.

Outra pesquisa também sugere que dormir o suficiente é crucial para ter uma boa saúde em longo prazo.
Scientific American Brasil

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Gelos amorfos: A água que ninguém viu

Gelos amorfos: A água que ninguém viu
A água não é apenas a mais preciosa, mas também a mais estranha das substâncias. Ao contrário do que se pensa, ela forma apenas um tipo de sólido, o conhecido gelo. Uma simulação feita em computador pelo físico Eugene Stanley, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, mostra que quando a água é resfriada bem abaixo de zero, sob pressão, aparecem dois outros tipos de gelo.
O mais espantoso é que eles não são cristalinos, ou seja, as moléculas de O2 no seu interior não se empilham uma em cima da outra, em colunas e fileiras bem ordenadas. Em vez disso, os novos gelos são amorfos, como os vidros - suas moléculas se agregam solidamente, mas de maneira desorganizada. Outro detalhe é que os gelos amorfos transformam-se um no outro continuamente e coexistem à mesma temperatura e pressão, uma situação que se denomina ponto crítico.
Revista Superinteressante

Há mais água no céu que na Terra

Há mais água no céu que na Terra
Informações sobre a quantidade de água nos planetas e cometas.
Terra, planeta água? Você acredita que o nosso planeta seja um oásis em meio a um Universo árido? Saiba que para os padrões cósmicos vivemos num dos ambientes mais desérticos que existem. Vamos fazer um recenseamento dos diversos ambientes astronômicos para avaliar corretamente a situação da Terra. Seu volume de água é de 1 bilhão de trilhão de litros; se toda a sua superfície fosse coberta de mares, estes teriam 3 quilômetros de profundidade. Isso é de fato um recorde entre os planetas do mesmo tipo da Terra: Mercúrio, Vênus e Marte. O problema é que a água só começa a ser abundante depois da órbita de Marte, entre os planetas ditos jovinianos: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Já é uma indicação disso o simples fato de as luas dos planetas jovinianos terem densidades próximas da do gelo. Um exemplo arrasador: a maior lua de Júpiter, Ganimedes, tem massa 30 vezes menor que a da Terra, mas reúne 70 vezes mais água que os oceanos terrestres. E ela está em forma líquida: nos mares em que se encontra, a mais de 500 quilômetros abaixo da crosta sólida, a alta pressão impede o congelamento.

Nas outras luas de Júpiter, como Calisto e Europa, repete-se o fenômeno dos mares subterrâneos. Esses satélites se formaram de acordo com uma mesma receita: cerca de 50% de rochas e 50% de água. O gelo, no entanto, prevalece no conjunto de luas dos planetas jovinianos.
Em todas as 54 luas do sistema solar, a água perfaz um volume 300 vezes maior que o dos mares terrestres. Nos planetas, ela existe em formas variadas. Em Vênus, por exemplo, está toda em forma de vapor, e se cobrisse toda a superfície, em estado líquido, mal chegaria a 10 centímetros de profundidade. O curioso é que Vênus já teve tanta água quanto a Terra, mas o efeito estufa volatilizou os oceanos. No vapor resultante, a molécula de água foi destruída pela radiação ultravioleta solar, e o hidrogênio, separado do oxigênio, foi jogado para o espaço: Na Terra, o efeito estufa é muito mais brando e as perdas são pequenas. A água expelida pelos vulcões consegue repor o que os oceanos perdem para o espaço.

Também Marte sofreu com o efeito estufa: seus mares de 100 metros de profundidade sumiram sob o calor de outras eras. Mas a vaporização não foi total, e até hoje se vêem lagos e leitos de rios secos na superfície. Se o resto de água entranhada nas rochas viesse à tona criaria mares de 400 metros de profundidade. Isso não acontece porque a massa do planeta é pequena e não gera atividade tectônica: ou seja, não há movimento interno suficiente para derreter as rochas e expeli-las - juntamente com a água - pela boca dos vulcões.

Resta examinar os quatro grandes planetas exteriores - os reservatórios realmente grandes de água no sistema solar. E uma pena que esta se encontre em local inacessível, sob a densa atmosfera desses mundos gigantescos. Em vista disso, as estimativas são incertas, já que nosso conhecimento sobre o interior dos planetas jovinianos é bastante indireto, vindo principalmente de modelos teóricos calculados com a ajuda de computadores. Seja como for, a avaliação atual é de que eles armazenam um volume de água superior a 1 milhão de vezes o dos mares terrestres.

Enfim, uma última palavra sobre os cometas, que também carregam quantidades consideráveis do precioso líquido. Mesmo porque eles são númerosíssimos: os que passeiam nas cercanias do Sol são minoria ínfima. Nas fronteiras do sistema solar, em contraposição, há uma nuvem de 100 bilhões de cometas, com bastante água para encher 10 vezes os oceanos terrestres. Em média, 90% da massa desses astros compõe-se de gelo. Verdadeiros icebergs do vácuo, eles flutuam muito além da órbita de Plutão, protegidos da luz solar, e quando despencam para o centro do sistema são desmanchados pela luz solar. Então mostram seus componentes: moléculas e grãos de poeira na forma original que a matéria cósmica teria antes de se transformar em corpos sólidos de grandes dimensões - os planetas. A água, desse modo, seria anterior à formação do sistema solar. Onde estariam suas verdadeiras fontes? Na próxima edição você vai conhecer algumas delas, jorrando água em proporção monumental pela Galáxia. Prepare-se, por exemplo, para ser ofuscado pela possante luz dos lasers de água em sistemas planetários em formação.
Revista Superinteressante