quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A estréia da roupa enlatada

Aerosol pode se transformar tecido com fibras naturais ou sintéticas sobre a pele

Cortesia de Fabrican, Ltd.

ROUPA ENLATADA: O estilista britânico Manel Torres teve a ideia de criar roupas “spray-on” depois de assistir a um casamento no qual observou pessoas se pulverizando mutuamente com serpentinas de aerossol (silly string, em inglês).


Pippa Wysong

Algum dia, fazer a mala para uma viagem pode ser tão simples como pegar algumas latas de spray de mistura de polímero coloidal para fazer suas próprias roupas “spray-on”. Tanto faz se é uma camiseta ou um traje noturno, o tecido “spray-on” é uma novidade para produzir uma variedade de tecidos leves.

O estilista espanhol Manel Torres teve a ideia depois de assistir a um casamento e observar como as pessoas se pulverizavam mutuamente com o chamado “silly string” (serpentina de aerossol, em português), filamentos de plástico ejetados em forma líquida de uma lata de aerossol. “Pensei se não seria ‘legal’ se houvesse um meio de criar um material que pudesse ser pulverizado para cobrir uma superfície maior e ser usado como roupa”, conta Torres.

Para criar um material assim, ele voltou à escola no Imperial College de Londres, fez um doutorado (PhD) em engenharia química e fundou a Fabrican, Ltd. em parceria com Paul Luckham, professor de engenharia química, também do Imperial.

Pulverizado em uma superfície, o tecido instantâneo forma um material tramado como tecido, explica Torres. A fórmula consiste em fibras curtas interligadas com polímeros e um solvente que produz o “tecido” em forma líquida. O material é pulverizado diretamente sobre a pele nua de uma pessoa, onde seca quase instantaneamente. Ele pode ser facilmente “descascado”, porque os polímeros não se ligam à pele.

Outras variantes aderem a outros tipos de superfícies. “A diferença reside principalmente nas formulações, mas também no método de pulverização”, observa Torres, acrescentando que a equipe experimentou com pistolas pressurizadas, bicos de aerossol, as chamadas “bombas de aerossol” e jatos de sprays para aplicações industriais e personalizadas. Para criar uma forma, como uma saia “boca de sino”, a solução seria pulverizada em uma superfície que já tivesse esse formato desejado.

As características do material, como resistência e textura, dependem do tipo de fibras misturadas na solução. As possibilidades incluem fibras naturais como lã, algodão, seda ou celulose, além de fibras sintéticas como o náilon. O tecido em si é como uma camurça fina e ligeiramente maleável, que pode ser aplicado em várias camadas para torná-lo mais espesso, esclarece Torres. Mas a textura e a sensação tátil diferem de acordo com os tipos de fibras misturadas na solução.

O “tecido” provoca uma sensação fria ao ser pulverizado no corpo, mas adquire a temperatura corporal em poucos segundos. Alguns manequins descrevem a sensação da roupa “spray-on” como sendo uma “segunda pele”; “como estarem vestidos, mas sentindo-se nus”, conta Torres.

Luckham explica que uma camiseta pode ser pulverizada no corpo, tirada por cima da cabeça e recolocada. Quando a pessoa se despe é possível dar asas à criatividade. “Uma camiseta pode ser cortada na frente com uma tesoura, removida como se fosse um colete, vestida de novo e receber outro jato de spray para fechar a abertura novamente”, exemplifica

Depois que a pessoa usou a roupa “spray-on” ela pode ser reciclada. Isso se faz ao picotar ou cortar a peça em pedaços pequenos e dissolvê-los em uma solução. Fragmentos menores dissolvem mais facilmente que os grandes e parecem tecidos solúveis em água, informa Torres. “O agente compressor utilizado para pulverizar o tecido é a mesma substância que o solvente, o que simplifica o processo de reciclagem, porque não é preciso ter outra solução ou solvente à mão” declara Luckham.

A equipe está desenvolvendo um tipo de gesso medicinal leve e impermeável “spray-on” e testando protótipos de próteses em parceria com militares do Reino Unidos que perderam membrosem combate. Acomercialização de um produto final deve acontecer assim que os testes forem concluídos. Bandagens “spray-on” e outras aplicações médicas também estãoem desenvolvimento. Umavantagem do tecido “spray-on” é que ele é estéril quando aplicado, o que o torna atraente para aplicações emergenciais, como curativos em campo de combate, explica Torres.

Uma empresa automotiva está trabalhando com a Fabrican para desenvolver tecidos “spray-on” para o interior de automóveis. O desafio é criar um tecido suficientemente forte e durável para resistir ao desgaste diário do carro da família ou de um veículo comercial.

Em curto prazo, Luckham prevê possibilitar que as pessoas pulverizem pequenas quantidades de tecido sobre superfícies para criar uma toalhita para limpeza do rosto ou uma toalha instantâneas, ou até usar materiais “spray-on” para fazer decorações semelhantes a papel machê.

Link para o video: http://www.youtube.com/watch?v=48Zz0ZbeCEY
 Scientific American Brasil

Varredura experimental não detecta matéria escura

Ausência indícios de matéria escura questiona proposições anteriores

Laboratório Sanford

LEGENDA: PROCURANDO WIMPS: O Grande Detector Subterrâneo de Xenônio (LUX) usa este equipamento para procurar luz emitida por átomos atingidos por uma pequena partícula de matéria escura em um tanque de xenônio líquido.


Clara Moskowitz

A busca mais sensível do mundo pela matéria escura anunciou ontem o que encontrou: nada. De acordo com cientistas, os primeiros resultados do experimento LUX (Grande Detector Subterrâneo de Xenônio, em inglês) foram nulos, indicando que a matéria invisível que se acredita compor uma grande parte do Universo é ainda mais elusiva do que acreditavam muitos especialistas.

Enterrado a cerca de 1,5km de profundidade em uma mina de ouro reformada na Dakota do Sul, que atualmente é a Instalação de Pesquisa Subterrânea Sanford, o experimento LUX procura sinais de partículas de matéria escura colidindo com os átomos em um tanque de xenônio líquido. Durante seus primeiros três meses de operação o detector não encontrou qualquer tipo de sinal. “Nós procuramos muito por essas partículas de matéria escura e não vimos nada”, declara o físico Rick Gaitskell da Brown University, co-porta-voz do LUX.

Os resultados, apresentados ontem (30/10) em um seminário e enviados para publicação à Physical Review Letters, eliminam várias massas e características possíveis para as partículas que compõem a matéria escura. O resultado nulo também conflita com experimentos anteriores que relataram possíveis sinais de matéria escura.

Cerca de um quarto do Universo parece ser composto de matéria escura, que faz sua presença ser sentida através da gravidade, apesar de não poder ser vista ou tocada. Uma das principais explicações da matéria escura postula que ela é composta de partículas chamadas de WIMPs (Partículas Massivas de Interação Fraca, em inglês). Se existirem, um bilhão dessas WIMPs provavelmente atravessam seu corpo a cada segundo sem que seus átomos percebam. A reticência dessas partículas em interagir com a matéria conhecida apresenta um desafio a físicos que pretendem detectar a matéria escura. Hipóteses sugerem, porém, que em situações muito raras WIMPs devam se chocar com átomos convencionais em vez de passarem pelo espaço entre eles.

Pesquisadores do LUX esperam captar esses impactos escassos ao medir partículas de luz (fótons) emitidas por um átomo de xenônio que for atingido por matéria escura. Para reduzir as chances de qualquer outra coisa fazer o xenônio emitir luz – como partículas espaciais carregadas, chamadas de raios cósmicos – o detector fica altamente protegido e enterrado no fundo da mina. Em termos de radioatividade de fundo, raios cósmicos e outros contaminantes, o centro do tanque do LUX, com 370kg de xenônio, é o “lugar mais silencioso do mundo”, explica Gaitskell.

O experimento é duas vezes mais sensível a partículas hipotéticas de matéria escura com grandes massas que outros detectores, e é ainda melhor se as partículas de matéria escura forem relativamente leves, observam os cientistas. O fato de o LUX ainda não ter registrado nenhum impacto desse tipo indica que as partículas no espectro de massa a que ele é sensível – entre cinco e 10 mil vezes a massa de um próton (uma unidade chamada de giga-elétron volt) – interagem de maneira extremamente rara com a matéria comum.

Os novos resultados do LUX também lançam dúvidas sobre alegações anteriores de possível detecção de matéria escura. O projeto italiano Dama (que significa DArk MAtter, ou matéria escura) alegou ter observado sinais de WIMPs há mais de uma década, e mais recentemente o CDMS (Busca Criogênica por Matéria Escura, em inglês) e o experimento CoGeNT (Tecnologia Coerente de Neutrinos baseada em Germânio, em tradução aproximada), ambos em Minnesota, observaram alguns eventos que podem ser atribuíveis à matéria escura. “Infelizmente não vejo essas alegações sobrevivendo aos novos resultados”, lamenta Gaitskell.

As outras equipes, porém, não estão prontas para reconhecer a derrota. Juan Collar da University of Chicago, que dirige o projeto CoGeNT, declara acreditar que a equipe do LUX não levou adequadamente em conta efeitos de campo elétrico e que, portanto, podem ter subestimado a sensibilidade do detector de xenônio para WIMPs de pouca massa.

Blas Cabrera da Stanford University, que dirige o projeto CDMS, também sustenta que o que seu projeto observou ainda pode ser matéria escura. “É improvável que o LUX tenha descartado toda a região de interesse” para WIMPs de pouca massa, porque o xenônio não é tão sensível quanto outros materiais à matéria escura nesse espectro de massa, aponta ele. (O CDMS usa detectores de silício e de germânio). “Apesar dessas críticas amigávels, estamos todos empolgados pelo sucesso de um novo experimento de busca de WIMPs que foi cuidadosamente construído”, elogia Cabrera. “Nós também continuamos a acreditar que, dada a dificuldade de todos os experimentos e a incerteza das propriedades das partículas de matéria escura, é muito importante usar vários materiais e tecnologias diferentes de detecção”.

A competição é acirrada para descobrir qual será o primeiro experimento a encontrar matéria escura, mas os pesquisadores declaram se importar mais com respostas do que com fama. “Nessa ponto da minha carreira, eu não estou preocupado em saber qual experimento descobrirá partículas de matéria escura, quero saber muito mais durante meu tempo de vida”, observa Cabrera.

O LUX é o experimento mais recente em uma série de buscas que estão em andamento há mais de três décadas, e nenhuma delas encontrou evidências conclusivas de matéria escura. Mas os cientistas não estão desencorajados. “Não posso dizer que estou decepcionado”, declara Daniel McKinsey, um porta-voz da Yale University. “Nós estamos muito felizes que o instrumento esteja funcionando tão bem”. O LUX continua a coletar dados, e os pesquisadores já estão planejando um detector de xenônio ainda maior, chamado de LUX-ZEPLIN. “Com sorte, da próxima vez estaremos anunciando um resultado positivo”, conclui Gaitskell. “Isso, como dizem, deixaremos com os deuses”.
Scientific American Brasil

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Par de estrelas recém-nascidas brilha intensamente


A dupla a apenas 20 anos-luz da Terra é surpreendentemente jovem
Adric Riedel/CUNY Hunter College/Museu Americano de História Natural

LEGENDA: VIZINHOS RECÉM-NASCIDOS: Localizadas a apenas 20 anos-luz da Terra, as duas estrelas de EQ Pegasi são tão jovens que brilham principalmente devido à gravidade, não a reações nucleares.

Ken Croswell

Ao contrário de muitas galáxias, nossa Via Láctea produz grandes quantidades de estrelas novas. Para estudar essas crianças estelares, observadores frequentemente se concentram em locais como a Nebulosa de Órion, uma nuvem de gás e poeira que fabrica estrelas a 1.350 anos-luz de distância. Agora astrônomos descobriram que um par de estrelas vermelhas próximas, chamadas de EQ Pegasi, é tão jovem que brilha principalmente devido ao calor de sua formação, e não de reações nucleares.

A descoberta pode dar a astrônomos a chance de vislumbrar o brilho de planetas recém-nascidos, já que as EQ Pegasi ficam a apenas 20 anos-luz da Terra – menos de cinco vezes a distância até Alpha Centauri, o sistema estelar mais próximo.

Para esclarecer, as EQ Pegasi não são tão jovens ao ponto de ainda ficarem imersas no gás e poeira que lhes deu vida. “Minha impressão é que elas têm algo entre 50 ou 100 milhões de anos”, estima Benjamin Zuckerman da University of California, Los Angeles, o astrônomos que descobriu as jovens estrelas. Se nosso sol, com 4,6 bilhões de anos de idade fosse um adulto de 46, as EQ Pegasi não teriam mais de um ano de idade.

A descoberta foi um acidente. Zuckerman estava estudando estrelas jovens mais distantes e percebeu que as EQ Pegasi poderiam estar se movendo junto com elas. Em seguida, notou que as duas estrelas tinham uma luminosidade anormal – um sinal de sua juventude.

Uma estrela se forma quando uma nuvem de gás e poeira interestelar colapsa sob seu próprio peso. Conforme a gravidade comprime o gás, ele se aquece, como faz o gás comprimido, até brilhar – assim nasce uma nova estrela, que deve a maior parte de sua luz à gravidade, e não a reações nucleares. Durante a fase da chamada pré-sequência-principal a estrela é maior e, portanto, mais brilhante do que seria se estivesse mais madura. A estrela encolhe lentamente e seu brilho diminui até atingir a sequência principal, o estágio em que o núcleo estelar converte prótons em hélio e fornece toda a energia da estrela.

Nosso Sol brilhou durante 50 milhões de anos como uma estrela pré-sequência-principal. O sistema EQ Pegasi tem duas anãs-vermelhas, estrelas que são muito menores, mais frias e tênues que o Sol. Essas estrelas são muito mais numerosas que todos os outros tipos estelares juntos, mas são tão fracas que nenhuma delas é visível a olho nu. Uma anã-vermelha evolui lentamente e permanece na fase pré-sequência-principal, abastecida pela gravidade, por mais de 100 milhões de anos, com um brilho mais forte que o de estrelas da sequência-principal com a mesma cor. “As duas estrelas do sistema EQ Pegasi parecem ter uma luminosidade maior do que teriam se fossem apenas estrelas comuns da sequência principal”, explica Zuckerman. Como ele e seus colegas relatam no volume de 20 de novembro do The Astrophysical Journal, o sistema EQ Pegasi tem as duas estrelas pré-sequência-principal mais próximas da Terra.

Adric Riedel, astrônomo do Hunter College, acredita que Zuckerman esteja certo. Há dois anos, Riedel descobriu a recordista anterior, uma estrela pré-sequência-principal ao sul da constelação Órion chamada de AP Columbae, que fica a 27 anos-luz da Terra.

Riedel examinou espectros não publicados do sistema EQ Pegasi para verificar a gravidade de superfície de suas duas estrelas. A gravidade na superfície de uma estrela pré-sequência-principal é pequena, já que a estrela é mais extensa que uma da sequência principal. De acordo com Riedel: “As estrelas do sistema EQ Pegasi têm pouca gravidade – de maneira convincente. Então sim, eu diria que elas realmente são jovens.”

Estrelas recém-nascidas perto da Terra empolgam caçadores planetários: “Isso as torna alvos interessantes para buscas de imageamento direto de planetas extrassolares”, observa Sascha Quanz [é um homem], astrônomo do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Zurique. Assim como estrelas jovens, planetas gigantes de pouca idade também brilham com o calor de seu nascimento; além disso, devido à sua proximidade com a Terra, os planetas devem aparecer mais longe do brilho de sua estrela, o que os torna mais fáceis de ver. Observar um planeta diretamente dá a astrônomos a chance de estudar sua atmosfera. Quanz procurou planetas ao redor de AP Columbae, mas não conseguiu ver nenhuma. “Nós conseguiríamos ver um planeta gigante gasoso com a massa de Júpiter com uma separação de cinco UA, que é a separação de Júpiter em nosso sistema solar”, descreve Quanz. Uma UA, ou unidade astronômica, é a distância média do Sol à Terra.

O sistema EQ Pegasi fica sete anos-luz mais próximo de nosso planeta que AP Columbae, o que o torna um excelente alvo para caçadores de planetas. Como o EQ Pegasi é um sistema binário, porém, planetas não podem simplesmente existir em qualquer parte dele. As duas anãs-vermelhas ficam aproximadamente tão distantes uma da outra quanto Netuno do Sol. Planetas poderiam ter órbitas próximas de uma das estrelas, para que a gravidade da outra não os atraia. Ou poderiam ter órbitas bem vastas ao redor dos dois tênues sóis.

“Essa descoberta é mais uma prova de que ainda não conhecemos nossos vizinhos mais próximos muito bem”, observa Riedel. “Existem muitas surpresas na vizinhança”.

Scientific American Brasil

Novas estratégias para vencer a malária

Uso de hormônios pode reduzir populações de insetos transmissores e limitar a propagação da doença

Jo Adentunji e The Conversation

Nota do editor: Este ensaio foi reproduzido com permissão da The Conversation, uma publicação on-line sobre as pesquisas mais recentes

O controle da malária é uma guerra travada em muitas frentes. Mosquiteiros e serpentinas repelem os insetos de seus almejados banquetes humanos e medidas ambientais eliminam ou limpam águas estagnadas onde os mosquitos gostam de se reproduzir.

Mas cientistas estão olhando além; mais exatamente, para a vida sexual íntima dos mosquitos. Em um novo estudo, divulgado no site científico PLoS Biology, pesquisadores da Harvard School of Public Health e da Universidade de Perugia, na Itália, mostram a importância de um hormônio transmitido pelo mosquito macho para a fêmea durante o sexo. Esse hormônio aciona um “interruptor”, um “sinal de acasalamento” como dizem os autores, para instruir a fêmea a desviar recursos para produzir um ovo. Bloquear a ativação desse mecanismo poderia ser uma nova forma de limitar as populações de mosquitos e, portanto, a propagação da malária.

Os coautores Flaminia Catteruccia e Francesco Baldini estão intimamente familiarizados com o mundo reprodutivo dos mosquitos. Eles trabalharam juntos em um estudo anterior sobre o papel de proteínas encontradas no sêmen do mosquito (depositado em uma massa coagulada chamada “plug de acasalamento”) para estimular mudanças nos corpos e no comportamento das fêmeas. Dessa vez, porém, a dupla e outros pesquisadores se concentraram na contribuição do hormônio esteróide masculino 20-hidroxi-ecdisona (20-E) encontrado no plug de acasalamento de Anopheles gambiae, a espécie de mosquito portadora do parasita Plasmodium da malária.

“Procuramos por ele, porque o 20E normalmente não é associado à reprodução masculina e queríamos entender por que os machos Anopheles gambiae produzem e transferem quantidades tão grandes desse hormônio para as fêmeas; já suspeitávamos que essa transferência pudesse ter um importante papel reprodutivo”, explicou Catteruccia.

Os pesquisadores descobriram que depois do ato sexual, o hormônio 20E interage com uma proteína no trato reprodutivo da fêmea que estimula a produção de ovos. O estudo também revelou como o mecanismo funciona: a interação do hormônio masculino com a proteína feminina aumenta o acúmulo de gordura nos ovários da fêmea, o que faz com que os ovos sejam produzidos mais rapidamente e em maior número. “Fêmeas virgens”, por outro lado, raramente desenvolvem ovos.

Catteruccia admitiu que, embora a pesquisa não tenha sido de modo algum abrangente, ela e Baldini não estavam cientes de nenhuma interação semelhante a essa no reino animal.

“Essa é a primeira vez em qualquer espécie de insetos que se mostrou que um hormônio masculino interage diretamente com uma proteína feminina e altera a capacidade reprodutiva da fêmea”, declarou Baldini.

De acordo com Catteruccia, as descobertas poderiam ser usadas para “atacar” os mosquitos e reduzir suas populações de duas formas: inibindo a produção do hormônio ou a sua interação com a fêmea. Isso poderia ser feito por meio de inseticidas atualmente utilizados para reduzir as populações de mosquitos e através da chamada técnica do inseto estéril. Esse método envolve a liberação de um grande número de insetos estéreis, geralmente machos, em uma população onde eles competem com machos naturais e acasalam com fêmeas para reduzir o número de insetos na próxima geração.

“Poderíamos manipular machos para que eles não produzam e transfiram um hormônio funcional”, sugeriu Catteruccia. “Esses machos alterados poderiam, então, ser soltos em estratégias de controle, como a técnica do inseto estéril, para suprimir as populações naturais de mosquitos”.

“Também poderíamos desenvolver inibidores que impeçam as fêmeas de desenvolver ovos. Esses inibidores poderiam ser incorporados nas fórmulas dos inseticidas usados atualmente para matar mosquitos (tanto inseticidas aplicados nos filós de mosquiteiros, como aerossóis residuais de uso doméstico interno)”, acrescentou.

“Desse modo, mesmo se o inseticida não matar o mosquito devido a uma resistência, ele não produzirá ovos, nem transmitirá a resistência a inseticidas para seus descendentes. Isso aumentaria a vida útil e a eficiência de inseticidas, nossa melhor arma contra a malária e os mosquitos”.

Sanjeev Krishna, professor de parasitologia molecular na St. George’s University of London, confirmou que a resistência a inseticidas é um problema e, embora estejam sendo feitos esforços para desenvolver novos produtos, novas formas de atacar as populações de mosquitos e a malária são bem-vindas.

“O controle de mosquitos, no qual uma limitação de sua reprodução seria um componente importante, é uma área comprovada de benefício na redução da mortalidade por malária através do uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas”, afirmou.

“Os mosquitos estão se tornando resistentes a alguns inseticidas e estão passando por uma seleção natural para mudanças de comportamento que os adaptam para ficarem menos expostos aos mosquiteiros. Se for possível desenvolver uma nova abordagem, isso seria muito útil para o ‘kit geral de ferramentas’ contra a malária. As descobertas feitas nesse estudo estabelecem as bases para uma abordagem diferente, mas haverá muito mais a fazer antes que os resultados possam ser traduzidos em benefícios para o controle da malária”, declarou Krishna.

Outro trabalho que analisou aspectos biológicos para controlar o Anopheles gambiae (Anopheles vem do grego e significa “bom para nada”) incluiu a idéia de infectar os mosquitos com a bactéria Wolbachia, que os torna temporariamente resistentes ao parasita da malária. Para isso, porém, as fêmeas desempenham um papel crucial, já que a infecção bacteriana só pode ser transmitida entre elas e suas crias.

Quanto à erradicação de mosquitos tem sido argumentado que a aniquilação completa de algumas espécies portadoras do parasita da malária não prejudicaria sistemas ecológicos, especialmente em comparação com os enormes danos provocados em humanos.

A publicação on-line The Conversation é financiada pelas seguintes universidades: Aberdeen, Birmingham, Bristol, Cardiff, City, Glasgow Caledonian, Liverpool, Open, Salford, Sheffield, Surrey, University College London (UCL) e Warwick. Ela também recebe financiamento do Higher Education Funding Council for England (HEFCE), do Higher Education Funding Council for Wales (Hefcw), do Scottish Funding Council (SFC), do Reasearch Councils UK (RCUK), da Fundação Nuffield e do The Wellcome Trust.

Este artigo foi publicado originalmente no site The Conversation.. Leia o artigo original (em inglês).
Scientific American Brasil

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dinheiro traz felicidade?


© SHARON DOMINICK/ISTOCKPHOTO

Dinheiro pode não comprar amor, mas pode comprar felicidade. O segredo é: você tem de gastá-lo com outra pessoa. Pesquisadores da University of British Columbia (UBC) e da Harvard Business School relatam na Science que pessoas que gastam bastante com presentes para outros e fazem doações para caridade são mais felizes que seus pares. Como parte do estudo, os psicólogos da UBC deram uma bolada de dinheiro para os voluntários gastarem; metade deles foi instruída a gastar consigo mesmo e a outra a gastar com outras pessoas. Os que gastaram com outros avaliaram a si mesmos como sendo mais felizes, em média, do que os que gastaram com eles próprios. As descobertas combinam com as de uma pesquisa feita com 16 pessoas da Harvard Business School em que se pediu a elas para medir sua felicidade antes e depois de receberem bonificações em dinheiro. Os que gastaram sua grana com outros avaliaram a si mesmos como mais felizes do que os colegas de trabalho que deixaram de dividir sua riqueza. “Essas descobertas sugerem que alterações bem pequenas na distribuição de gastos, algo tão pouco como US$ 5, pode ser suficiente para produzir ganhos reais de felicidade em um determinado dia”, diz a autora do estudo e psicóloga da UBC Elizabeth Dunn. (Boston Globe, The New York Times’ Tierney Lab).
Scientific American Brasil

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Que fim terá o "Antropoceno"?



Dois livros de 2011 jogam um olhar sobre a história da Terra e da vida que nela habita, com um alerta sobre a crescente redução do gelo e da biodiversidade

Rodrigo Cunha



O mundo que habitamos hoje já foi bastante inóspito no passado e sofreu mudanças significativas ao longo de seus bilhões de anos de existência – uma escala de tempo nada fácil de imaginar. Entre idas e vindas, o planeta já foi diversas vezes coberto de gelo e já foi até mais quente do que nos dias atuais em que o aquecimento global permanece nas pautas de discussão, tanto no meio científico quanto político. A vida encontrou aqui condições favoráveis para florescer e se diversificar extraordinariamente ao longo do tempo. Algumas formas de vida resistiram às inúmeras catástrofes naturais, enquanto outras se extinguiram. Mas as mudanças na Terra nunca tiveram um ritmo tão acelerado quanto no período mais recente de sua história, chamado por alguns cientistas de “Antropoceno”, para caracterizar uma era geológica dominada pela ação do homem.

Esse olhar para o passado geológico do planeta e para as atuais mudanças no clima e suas consequências para a vida são pontos em comum de duas publicações lançadas no Brasil em 2011, às vésperas da reedição do encontro global que o Rio de Janeiro sediou há duas décadas, colocando definitivamente em destaque as questões ambientais. Uma delas é Biodiversidade em questão, de Henrique Lins de Barros, voltada para o público infanto-juvenil. A outra é Um mundo sem gelo, de Henry Pollack, que já havia saído nos Estados Unidos em 2009 e cuja tradução chega agora ao Brasil. Da Eco 92 para cá, não só as discussões sobre o ambiente cresceram em peso e relevância como tornaram-se temas da moda, seja biodiversidade ou mudanças climáticas. Ante tudo o que já foi dito nesses últimos 20 anos, o que esses dois livros teriam como diferencial?

Um deles é a inusitada área de atuação de seus autores – do ponto de vista de um leigo, evidentemente. Barros encarou como um desafio a encomenda que recebeu de Nísia Trindade de Lima, vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para escrever sobre biodiversidade. Ele é físico e sua especialidade é a biofísica de bactérias magnéticas. E é falando de seus estudos sobre esses estranhos seres que ele abre sua narrativa sobre a diversidade da vida na Terra. O resultado, lançado em parceria entre a Editora Fiocruz e a Claro Enigma – braço da Companhia das Letras voltado para publicações paradidáticas –, é um livro de fácil leitura, que resume a saga da vida de forma atraente para o público infanto-juvenil.

Ao descrever os aquários de seu laboratório de pesquisa, com águas coletadas de lagoas do Rio de Janeiro, Barros sinaliza qual será o fio condutor de sua narrativa: em alguns, a vida se adapta às novas condições; em outros, a vida surge surpreendentemente de uma água suja, que aos poucos vai se limpando naturalmente; mas há aqueles em que a água está tão poluída que não há como uma forma de vida se manter ali. Em seu breve resumo da história geológica da Terra, ele faz menção às eras glaciais, a erupções vulcânicas, e ao impacto de grandes asteroides para falar em vidas que se extinguiram e em outras que resistiram às catástrofes naturais e se adaptaram a condições extremas.

Do início ao fim do livro, Barros faz menção ao período mais recente, em termos geológicos, relativo à expansão do homem na Terra e ao aumento vertiginoso do uso dos recursos naturais para atender à demanda da crescente população humana. Boa parte do que ele aponta já é algo bastante explorado na mídia e até mesmo nas escolas, por estar ligado a outro tema da moda, a sustentabilidade. Mas há episódios interessantes em sua narrativa, como a preocupação com o reflorestamento, muito anterior à Eco 92, no reinado de Pedro II, para resolver o problema da qualidade da água para abastecer a crescente população da capital do Império. O livro é uma boa dica para o público jovem.

Um mundo sem gelo, por sua vez, foi escrito por um professor de geofísica da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, especializado em estudar as temperaturas do solo tanto nos continentes terrestres, quanto nos glaciais. Pollack integrou o time de cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que dividiu o Prêmio Nobel da Paz de 2007 com Al Gore, o ex-vice-presidente norte-americano e autor do documentário sobre o aquecimento global: Uma verdade inconveniente. Al Gore, que assina a apresentação do livro, tem um projeto para disseminação das ideias relativas às mudanças climáticas, do qual Pollack participou como professor para treinar disseminadores voluntários, como aposentados, estudantes e donas de casa.

Seu livro, que conta uma história geológica da Terra bem mais detalhada que a de Barros, também narra as dificuldades encontradas pelos navegadores até a recente conquista dos continentes glaciais. Nesses trechos, a narrativa tem o sabor das aventuras de viagem e Pollack revela um talento surpreendente como contador de histórias e a sensibilidade de um apaixonado na descrição do cenário do continente antártico. Em outros trechos, a leitura se torna um tanto densa, com informações geológicas que não dispensam o vocabulário técnico, mas que não chegam a comprometer o interesse do leitor pela saga do personagem principal da narrativa, o gelo.

Pollack faz menção aos céticos que questionam o aquecimento global ou que o admitem, mas negam que ele seja devido às ações humanas. Nos momentos em que Pollack interrompe a narrativa para comentar esse debate, seus argumentos são simples e convincentes. Um deles é que certamente ocorreram fenômenos como os incêndios florestais causados por quedas de raios, antes de o homem aparecer na Terra; mas a ação antrópica em sua expansão pelo mundo superou as causas naturais de desflorestamentos. Outro argumento simples diz respeito ao ritmo de aquecimento ser maior no período mais recente, levando-se em conta os ciclos naturais de esfriamento e aquecimento da Terra: o crescimento da população e da demanda por energia no último século foi exponencial, e o aumento da queima de combustíveis fósseis acelerou o aquecimento global. Como diz Pollack, a ação individual de cada um de nós pode parecer inútil diante de um problema tão grande e inexoravelmente consumado, mas basta multiplicar pelos bilhões de humanos do planeta para ver que fará diferença.



Biodiversidade em questão 
Autor: Henrique Lins de Barros 
Editoras: Claro Enigma e Fiocruz 
Nº de páginas: 94 


Um mundo sem gelo 
Autor: Henry Pollack
Editora: Rosari 
Nº de páginas: 255

Revista Com Ciência

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Notícias Ciência Fácil


Obesidade infantil cresce no Brasil
Crianças entre 5 e 9 anos já apresentam o problema. A grande saída é a reeducação alimentar, que deve ser adotada pela família inteira para ter resultados satisfatórios

POR DANIELE MAIA


Rio - A obesidade já é considerada uma epidemia mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, 60% dos adultos têm sobrepeso (estágio inferior à obesidade) ou já estão obesos. Entre crianças e adolescentes, os números também assustam: entre 5 e 9 anos, 33,5% estão com sobrepeso e 14,3%, obesas.

Para a endocrinologista Carmem Regina Leal de Assumpção, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a grande responsabilidade desse quadro generalizado de briga com a balança é o estilo de vida moderno: “O sedentarismo e os maus hábitos alimentares são os vilões desse processo. É preciso quebrar esse padrão, urgentemente.”

Outro reflexo da vida moderna que impacta na má alimentação da garotada é o número cada vez maior de mulheres no mercado de trabalho. Com isso, elas têm menos tempo para os filhos e para os afazeres domésticos de um modo geral: “As gerações mais recentes não têm nem mais a referência daquela avó que cozinha maravilhosamente bem e faz a comidinha que o neto pede. São mães e avós profissionais que delegam a casa à empregada. Nesse cenário, é mais fácil oferecer alimentos industrializados, aquelas comidas prontas, que têm excesso de sal, açúcar, gordura e pouquíssimos nutrientes”, explica a nutricionista Márcia Vivas, do Centro Pediátrico da Lagoa. Para ajudar os filhos a emagrecer, nada de dietas milagrosas, recomenda o endocrinologista Luciano Negreiros, autor do recém-lançado “Os superamigos saudáveis”, livro que de forma lúdica orienta a garotada a se alimentar melhor.

Segundo ele, uma boa dica é fazer pratos sempre coloridos. Isso quer dizer que você elaborou uma refeição bem nutritiva, equilibrada e variada, com todos os nutrientes necessários, ou seja, com verduras, legumes, carboidratos e proteína. “A palavra-chave é a reeducação alimentar. E toda a família deve se envolver nesse processo.”

Exigir que a criança passe sozinha por essa reeducação alimentar é o grande erro que as famílias cometem, concorda Mariana Catta-Preta, coordenadora do curso de Nutrição do Centro Universitário Celso Lisboa: “O hábito alimentar da criança é reflexo do ambiente. Não dá para querer que o filho passe com sucesso por uma reeducação alimentar se em casa os pais continuam enchendo a despensa de guloseimas.”


Nada de televisão no quarto dos filhos

Quem tem filho sabe: televisão dentro do quarto colabora com o sedentarismo da garotada. Agora, um estudo científico traz um alerta que vai servir de argumento para, quem sabe, tirar esses aparelhos do quarto dos pequenos: a pesquisa, realizada pelo Centro de Pesquisa Biomédica de Pennington (EUA), afirma que passar muito tempo em frente à TV dentro do quarto gera excesso de peso e colesterol total elevado.

Eles acompanharam por um ano crianças entre 5 e 11 anos e descobriram que as que possuem televisão no quarto têm mais chances de desenvolver gordura subcutânea, maior circunferência da cintura e triglicerídeo elevado.
Jornal O Dia

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Notícias Ciência Fácil


Bóson de Higgs, o maior feito da ciência em 2012

HERTON ESCOBAR - O Estado de S.Paulo

A revista americana Science anunciou ontem a sua tradicional lista de dez maiores avanços da ciência no ano. O grande campeão de 2012 não poderia ser outro: a descoberta do bóson de Higgs - a chamada "partícula de Deus" -, nas dependências do Grande Colisor de Hádrons (LHC), o maior e mais caro projeto científico de todos os tempos.

A descoberta foi anunciada pelo Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), no dia 4 de julho, em Genebra, num evento que, aconteça o que acontecer, já entrou para a história da ciência. Descobrir - ou demonstrar a não existência - do bóson de Higgs era o maior desafio por trás do LHC, um gigantesco acelerador de partículas subterrâneo com 27 quilômetros de comprimento, que custou US$ 5,5 bilhões para ser construído.

O bóson era a partícula que faltava para completar o Modelo Padrão, o quebra-cabeça de equações elementares da física que descreve a composição e o funcionamento de toda a matéria visível do universo. Segundo a teoria, é a partícula que dá massa a todas as outras partículas, como prótons e elétrons.

"Fecha-se um episódio importantíssimo na história do conhecimento humano. Hoje temos um modelo que descreve com enorme precisão todas as interações relevantes para o mundo subatômico", diz o físico brasileiro Sergio Novaes, da Unesp, um dos seis mil cientistas ao redor do mundo que colaboraram nos experimentos.

A existência do bóson já era prevista teoricamente há mais de 40 anos, mas faltavam resultados experimentais para provar que ela existe de verdade. Foi o que fez o LHC, acelerando e colidindo prótons em velocidades próximas à da luz.

Genômica. Outros nove avanços receberam menção honrosa. Entre eles, o aprimoramento das técnicas de sequenciamento de DNA fóssil, que mapearam com maior precisão o genoma de um hominídeo, e a Enciclopédia de Elementos de DNA (Encode, em inglês), projeto de US$ 288 milhões que desbancou o conceito de "DNA lixo" - os resultados, publicados em setembro, revelam que 80% do genoma humano têm função bioquímica.

Outro destaque foi o desenvolvimento de uma biotecnologia molecular chamada Talent, que permite desligar genes de forma muito mais específica do que pelas metodologias anteriores. Já a biologia celular comprovou que as células-tronco embrionárias podem ser transformadas em óvulos aptos para reprodução.

Na exploração espacial, não poderia faltar a missão Curiosity, da Nasa, que pôs mais um jipe-robô a procurar indícios de vida em Marte. Foram citados ainda estudos com neutrinos na China, o uso de lasers de raio X para determinar a estrutura de proteínas, a descoberta da partícula fêrmion Majorana e avanços na tecnologia de interface cérebro-máquina.
Jornal O Estadão

Notícias Ciência Fácil

Pesquisa revela planetas estranhos além do Sistema Solar da Terra
Busca encontrou planetas de diamante ou iluminados por quatro estrelas.


Nos últimos 20 anos, astrônomos de todo mundo catalogaram cerca de 850 planetas fora do nosso Sistema Solar.

A busca por mundos que orbitem outras estrelas tem levado à descoberta de alguns planetas estranhos, desde um gigante de gás quente, mais escuro que carvão, até um planeta com quatro sóis.

Abaixo, alguns dos exemplos mais estranhos.

Quatro sóis

Em uma cena do filme da saga Star Wars, quando o personagem Luke Skywalker olha para o horizonte, vê dois sóis se pondo no planeta Tatooine.

Os astrônomos já descobriram vários sistemas parecidos com o da ficção, nos quais os planetas orbitam estrelas duplas. Mas, em 2012, uma equipe de voluntários e astrônomos profissionais encontrou um planeta iluminado por quatro astros, o primeiro desse tipo.

O mundo distante fica na constelação de Cygnus, orbita um par de astros e um segundo par gira em volta deles. Ele fica a 5.000 anos-luz da Terra e seu raio é seis vezes maior do que o do nosso planeta (do tamanho de Netuno).

E, apesar de ser puxado por quatro forças gravitacionais diferentes, o planeta PH1 consegue manter uma órbita estável.

A descoberta foi feita por voluntários que usavam o site Planet Hunters, junto com uma equipe de institutos científicos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. O nome PH1 veio do site.

Na época da descoberta, Chris Lintott, da Universidade de Oxford, disse à BBC que a descoberta "não era, em absoluto, algo que estávamos esperando".

Escuridão

Em 2011, um grupo de astrônomos americanos anunciou que um exoplaneta - mundo localizado fora do nosso Sistema Solar - do tamanho de Júpiter e conhecido como TrES-2b era o mais escuro já descoberto, refletindo apenas 1% da luz que o atingia.

O TrES-2b é ainda mais escuro do que tinta acrílica preta e mais preto do que qualquer planeta ou lua do nosso Sistema Solar. Ele fica a 718 anos-luz da Terra e sua massa e raio são quase os mesmos que os do planeta Júpiter.

A distância entre o TrES-2b e sua estrela pode ser um dos fatores responsáveis por essa escuridão.

Em nosso Sistema Solar, Júpiter é coberto por nuvens brilhantes de amônia que refletem mais de um terço da luz do Sol que o alcança.

Mas o TrES-2b orbita a uma distância de apenas 4,83 milhões de quilômetros de seu astro. A energia intensa do Sol esquenta o planeta a mais de 1.000ºC, o que o torna muito quente para a formação de nuvens de amônia. A atmosfera do TrES-2b também tem elementos químicos que absorvem ao invés de refletir a luz.

Mas esses fatores não conseguem explicar totalmente a extrema falta de luz no planeta.

Um dos autores do estudo sobre o TrES-2b, David Spiegel, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, afirma que o planeta é tão quente que "emite um brilho vermelho fraco, muito parecido a uma brasa ou à espiral de um forno elétrico".

Diamante

Um planeta próximo na constelação de Câncer pode ter uma composição peculiar. O corpo celeste, conhecido como 55 Cancri E, "provavelmente é coberto de grafite e diamante em vez de água e granito", segundo o astrônomo Nikky Madhusudhan, da Universidade de Yale.

O 55 Cancri e pertence à classe de mundos conhecida como planetas-diamante e acredita-se que seja rico no elemento carbono, que pode existir em várias formas estruturais, como grafite ou o diamante. Planetas ricos em carbono contrastam muito com a Terra, cujo interior tem, relativamente, pouco deste elemento, mas é rico em oxigênio.

Ele fica a 40 anos-luz da Terra e o raio do planeta é duas vezes o tamanho do raio da Terra.

Em 2012, Madhusudhan e seus colegas publicaram as primeiras medidas do raio do exoplaneta. Estes novos dados, combinados com as estimativas mais recentes da massa 55 Cancri E, permitiram que os cientistas deduzissem a composição química.

Para fazer isto, eles usaram modelos em computadores do interior do planeta e calcularam as possíveis combinações de elementos e compostos que poderiam ter as características observadas.

Os resultados sugerem que o 55 Cancri E é, em sua maior parte, composto de carbono (na forma de grafite e diamante), ferro, carboneto de silício e, potencialmente, silicato.

Os cientistas estimam que pelo menos um terço da massa do planeta seja de diamante, o equivalente a três vezes a massa da Terra.

Engolido

Localizado na constelação de Auriga (também conhecida como Cocheiro), a 600 anos-luz da Terra, o planeta Wasp-12b está sendo devorado lentamente pela sua estrela, a Wasp-12.



O planeta gigante orbita tão próximo à estrela semelhante ao Sol que sua temperatura chega a 1.500ºC. Ele está sendo distorcido, chegando à forma de uma bola de rúgbi, devido à gravidade da estrela.

A grande proximidade entre o Wasp-12b e a estrela levou a atmosfera do planeta a se expandir a um raio três vezes maior que a de Júpiter. Material proveniente dela está "vazando" para a estrela.

"Vemos uma grande nuvem de materiais em volta do planeta, que está escapando e será capturado pela estrela", disse a astrônoma Carole Haswell, da Open University britânica.

Haswell e sua equipe usaram o telescópio Hubble para confirmar estimativas anteriores a respeito do planeta e divulgaram a descoberta na publicação científica The Astrophysical Journal Letters.

Os pesquisadores dizem que o planeta pode ainda existir por mais 10 milhões de anos antes de se apagar. BBC Brasil
Jornal O Estadão

Notícias Ciência Fácil

Cannabis não alivia dor mas a torna mais tolerável, segundo estudo britânico
Substância reduz a atividade em regiões do cérebro associadas à parte emocional da dor

Efe

LONDRES - A cannabis não serve para aliviar a dor mas a torna mais tolerável para algumas pessoas, segundo um estudo da universidade britânica de Oxford divulgado neste sábado.



Os autores do estudo, publicado no último número da revista Pain, descobriram que a substância psicoativa da cannabis reduz a atividade em regiões do cérebro associadas à parte emocional da dor.

Por outro lado, essas mudanças não foram detectadas na região do cérebro associada diretamente à sensação de dor. Os especialistas afirmaram que a cannabis pode tornar a dor mais tolerável, embora não em todos os casos, já que algumas pessoas não são sensíveis aos seus efeitos.

A equipe de pesquisadores do centro de ressonância magnética do cérebro da universidade de Oxford, dirigido por Michael Lee, baseou suas conclusões em um pequeno experimento com doze pessoas saudáveis.

A atividade cerebral delas foi acompanhada após a ingestão de uma pastilha com 15 miligramas de THC, substância psicoativa da cannabis e responsável por seus efeitos. Depois, os pesquisadores provocaram dor nas 12 pessoas ao passar em suas pernas um creme com o componente que causa a ardência da pimenta-malagueta. Também foi feito um teste com a aplicação de placebo ao invés do THC.

Os cientistas observaram que com o THC os voluntários avaliavam que a dor era mais tolerável. Além disso, notaram que seu consumo ativava a região do cérebro que determina "a reação emocional à dor", e não a que codifica "a sensação" de dor.

Para corroborar estas conclusões, Lee disse que serão precisos mais estudos, realizados por mais tempo e com pacientes com dor crônica.
Jornal O Estadão