quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fósseis revelam dinossauros aquáticos

Os hábitos semiaquáticos dos espinossauros os ajudaram a coexistir com os tiranossauros
por Matt Kaplan
Marc Simonetti
Espinossauros podem ter passado muito tempo das suas vidas na água
Alguns pesquisadores encontraram evidências de dinossauros que passavam muito tempo na água. Essa descoberta, feita ao se analisarem isótopos de oxigênio encontrados nos fósseis de um espinossauro que se alimentava de peixes, demonstra como o dinossauro deve ter coexistido com outros grandes predadores, como os tiranossauros.
Os resultados, publicados na revista Geology, por Romain Amiot, da Universidade de Lyon na França, e uma equipe de colegas, demonstram que os dinossauros não estavam, na verdade, restritos à terra como se pensava anteriormente.

Animais aquáticos, como os plesiossauros e os ictiossauros, que, embora pareçam com dinossauros, não fazem parte da linhagem dos dinos.
Baryonyx walkeri, da família dos espinossauros, possui um crânio longo e parecido com o de um crocodilo, cheio dos característicos dentes em formato de cone. Quando ele foi encontrado, as teorias eram que, com esses dentes perfurantes, em vez dos dentes serrados normalmente encontrados em carnívoros aparentados, como o Tyrannosaurus rex, e um focinho grande, esse dinossauro se alimentasse de peixes.

Evidências de um comportamento piscívoro vieram com a descoberta de escamas de peixe parcialmente digeridas no estômago fossilizado dentro de um esqueleto de Baryonyx escavado na Inglaterra em 1983. Mas os conteúdos estomacais também continham restos de dinossauros, e outras evidências posteriores demonstram que os pterossauros também eram parte da dieta dos espinossauros, tornando a questão mais complicada. A ausência de barbatanas, membranas entre os dedos das patas ou caudas propulsoras perceptíveis também não sugeriam um modo de vida aquático.

Isso levou Amiot e seus colegas a procurarem isótopos de oxigênio presos dentro do esmalte dos dentes do espinossauro e compará-los com os isótopos de oxigênio encontrados nos dentes dos crocodilos e outros dinossauros e em fragmentos de cascos de tartarugas do mesmo período.
Animais que passam muito tempo em um ambiente seco perdem água na respiração e na evaporação pela pele. Pelo fato de o oxigênio-16 ser mais leve do que outro isótopo – o oxigênio-18 –, ele é liberado de forma mais frequente com o vapor d\\'água. Em consequência, o oxigênio-18 se torna mais concentrado nos tecidos e no momento da formação do esmalte dos dentes.

Estando submersos grande parte do tempo, animais aquáticos perdem menos água do que os terrestres, e, portanto, o oxigênio-18 possui uma concentração relativamente menor nos seus tecidos. Animais aquáticos também bebem e urinam mais rapidamente que os animais terrestres; essa lavagem constante com água doce mantém as concentrações de oxigênio-18 baixas.

Os pesquisadores raciocinaram que, se os espinossauros fossem aquáticos, a concentração de oxigênio-18 nos seus tecidos iria ser bastante parecida com a de animais aquáticos como os crocodilos e as tartarugas, e seria bem menor que os valores dos isótopos de outros animais.

Para ver se esse era o caso, a equipe coletou dados de isótopos de 133 espécimes do Cretáceo – mistura de espinossauros, outros dinossauros, crocodilos e tartarugas – em quatro continentes diferentes. Eles relataram que os espinossauros apresentaram valores de oxigênio-18 1,3% menores que os encontrados em dinossauros terrestres – uma diferença estatisticamente significativa. Ao contrário, os valores de oxigênio-18 em crocodilos e espinossaurídeos não diferiram de forma significativa. A equipe argumentou que isso indica que os espinossauros viviam em ambientes aquáticos.

“Essa é uma ilustração intrigante de como as análises cuidadosas do isótopo podem ser utilizadas para diferenciar os ambientes nos quais os dinossauros e outros organismos viviam”, afirma o paleontologista Michael Benton, da University of Bristol, no Reino Unido.
Uma objeção em potencial contra as novas descobertas é que uma dieta composta, principalmente, de animais aquáticos como peixes, levaria à ingestão de comida inerentemente pobre em oxigênio-18 e faria com que os tecidos do espinossauro adquirissem valores de oxigênio-18 baixos.
No entanto, Amiot argumenta que “mesmo se os espinossauros comessem somente peixes e fossem animais terrestres, eles evaporariam a água desses peixes ingeridos pela pele e pela respiração e terminariam com uma assinatura isotópica terrestre”.

“O método que eles estão usando é sutil e controverso, mas, com o resultado repetido em numerosos espécimes de espinossauros de tantas localidades diferentes, ele pode muito bem estar certo”, afirma Benton.
No entanto, para alguns, é o visual não aquático do esqueleto do dinossauro que é difícil de ignorar. “Eu não duvido dos dados de isótopos, mas se eles viviam na água, eu fico perplexo pelos espinossauros não terem membros modificados para propulsão aquática, ou caudas flexíveis e propulsoras observadas tipicamente em animais aquáticos”, questiona Paul Barret, um paleontologista do Natural History Museum em Londres.

Amiot não consegue responder essa pergunta ainda, mas ele está disposto a começar a investigar o momento no qual os espinossauros começaram as suas vidas aquáticas, e espera que uma compreensão de quais forças os levaram para a água possa explicar de forma mais acertada os mistérios que ainda Os hábitos semiaquáticos dos espinossauros os ajudaram a coexistir com os tiranossauros permanecem sobre o grupo.

Scientific American Brasil


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