quarta-feira, 9 de março de 2011

Florestas da Antártida viviam meses no escuro

Exemplar da planta 'Ginkgo biloba', que sobreviveu
à escuridão na Antártida. (Foto: SLP / via BBC)

Howard Falcon-Lang - BBC - 10/02/2011

Antártida sem gelo

Cientistas que estudam fósseis de plantas e animais encontrados na Antártida descobriram que esses seres possuíam mecanismos sofisticados que lhes permitiam sobreviver vários meses no escuro.

Segundo teorias, no período em que essas criaturas viveram, cem milhões de anos atrás, a Terra estava à beira de um aquecimento extremo.

As calotas de gelo que tinham coberto os pólos haviam praticamente derretido, permitindo que amplas florestas crescessem no local.

Hoje, com o aumento nas médias de temperatura registradas no Continente Antártico, os cientistas não descartam a possibilidade de que plantas voltem a florescer na região.

Antártida cheia de florestas

Uma das primeiras pessoas a encontrar evidências de florestas antárticas foi o conhecido explorador britânico Robert Falcon Scott.

Retornando do Pólo Sul em 1912, ele encontrou fósseis de plantas na geleira Beardmore.

O peso adicional dos espécimes pode ter contribuído para a sua trágica morte (Scott morreu congelado dias depois de alcançar o Pólo Sul), mas revelou ao mundo o passado sub-tropical do continente.

A pesquisadora Jane Francis, da Universidade de Leeds, no norte da Inglaterra, seguiu os passos de Scott, passando dez temporadas na Antártida coletando fósseis de plantas.

"Ainda acho incrivelmente fascinante a ideia de que a Antártida foi um dia coberta de florestas", disse Francis à BBC.

"Temos como certo que a Antártida sempre foi uma vastidão gelada, mas as calotas de gelo são, em termos de história geológica, relativamente recentes".

Fósseis vegetais

Uma das mais incríveis descobertas da cientista foi feita nas Montanhas Transantárticas, não muito longe de onde Scott encontrou seus fósseis.

"Estávamos no alto dos picos gelados quando encontramos uma camada de sedimento cheia de folhas frágeis e gravetos".

Mais tarde, a equipe descobriu que esses fósseis eram restos de arbustos de faia (árvore típica de climas temperados).

Com idade em torno de cinco milhões de anos, os arbustos estavam entre as últimas plantas a viver no continente antes do seu resfriamento.

Outros fósseis revelam que florestas verdadeiramente subtropicais existiram na Antártida em períodos anteriores, durante a chamada "era dos dinossauros", quando níveis muito mais altos de gás carbônico provocaram um período de aquecimento global extremo no planeta.

"Se você voltar cem milhões de anos no tempo, a Antártida estava coberta de florestas (de árvores) altas, semelhantes às que existem hoje na Nova Zelândia", disse à BBC Vanessa Bowman, colega de Francis na Universidade de Leeds.

"Encontramos com frequência troncos fossilizados que devem ter vindo de árvores muito grandes".

Longas noites

Para os especialistas, a característica mais intrigante e bizarra das florestas polares era sua capacidade de sobreviver a longos invernos, onde a noite dura meses, e aos verões sem fim, quando o sol brilha à meia-noite.

O cientista David Beerling, da Universidade de Sheffield, no norte do país, explica qual foi o desafio que essas espécies tiveram de enfrentar:

"Durante períodos prolongados de escuridão no inverno quente, as árvores consomem seu estoque de nutrientes", ele disse. Mas se isso continua por tempo muito longo, elas vão acabar "passando fome", disse Beerling à BBC.

Para entender como as árvores sobreviveram a essas condições extremas, Beerling fez um experimento.

Entre as plantas que um dia viveram na Antártida está a espécie Ginkgo biloba, que por viver até hoje é considerada um fóssil vivo.

"O que fizemos foi plantar mudas dessas plantas em estufas sem luz onde pudemos simular as condições de luz da Antártida".

"Também aumentamos a temperatura e as concentrações de CO2 para obter as mesmas condições".

O experimento demonstrou que as árvores podem sobreviver incrivelmente bem a esse ambiente estranho. Embora usem seus estoques de alimento no inverno, elas compensam as perdas porque são capazes de fazer a fotossíntese 24 horas por dia no verão.

Dinossauros polares

Outros fósseis encontrados mostram que dinossauros também habitaram a região.

O especialista em dinossauros Thomas Rich, do Victoria Museum, na Austrália, encontrou vários exemplares desses fósseis.

"O único esqueleto de dinossauro completo que encontramos (na região) é o Leaellynasaura. O que é realmente incomum sobre esse espécime é o crânio. Ele indica que o animal tinha lóbulos ópticos maiores", ele explicou.

Segundo o especialista, isso indica que os dinossauros polares podem ter possuído uma visão noturna extremamente desenvolvida e, portanto, estavam bem adaptados para encontrar alimento e sobreviver aos prolongados invernos antárticos.

Aquecimentos globais no passado

Hoje, lençóis de gelo com espessura de três quilômetros cobrem uma região que um dia foi habitada por florestas e dinossauros.

Entretanto, registros geológicos oferecem provas irrefutáveis de que, em toda a história do planeta, vêm ocorrendo flutuações dramáticas no clima do Pólo Sul.

Nos últimos 50 anos, a temperatura na Península Antártica subiu em torno de 2,8 ºC, um aquecimento mais rápido do que em qualquer outra parte do mundo.

Se esse aquecimento continuar, os cientistas não descartam a possibilidade de que o Continente Antártico volte a ter a cor verde-esmeralda.

"Isso é possível", disse Francis à BBC. "Entretanto, isso implica que espécies de plantas sejam capazes de migrar pelo Oceano do Sul, vindas de lugares como a América do Sul ou a Austrália".


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O xadrez do hidrogênio


É preciso pensar estrategicamente para adaptar o Brasil ao combustível do futuro
por Ennio Peres da Silva
Questões ambientais globais, instabilidades internacionais no fornecimento e elevação dos preços do petróleo com a conseqüente busca pela segurança no suprimento de energia são fatores que têm levado muitos países a buscar alternativas energéticas, entre elas o uso do hidrogênio, principalmente em células a combustível.
Uma característica fundamental dessa tecnologia é a necessidade de integração de diversas áreas do conhecimento, envolvendo cada uma das etapas da cadeia do hidrogênio: geração, processamento/armazenamento/transporte/distribuição, conversão, aplicações, além de ações transversais como análise de mercado, segurança, normatização e educação para esta nova tecnologia.

O Brasil participa desse esforço através de suas instituições de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), empresas e órgãos governamentais da área energética e tecnológica. A busca por uma ação nacional integrada teve início em 2000, com reuniões organizadas pela Finep, Financiadora de Estudos e Projetos. No final de 2002 foi lançado o Programa Brasileiro Sistema de Células a Combustível – ProCaC, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, cujo objetivo principal é orientar as atividades de P&D em células a combustível e tecnologias associadas, a fim de otimizar a utilização dos recursos disponibilizados pelas agências financiadoras oficiais. Suas primeiras ações foram implementadas em 2004. Entre essas ações está a formação das redes de P&D que devem começar a atuar organizadamente em 2005.

No âmbito da política energética para o hidrogênio, o governo brasileiro, através da Ministra de Minas e Energia (MME), Dilma Roussef, assinou em 2003 um convênio de cooperação com os EUA, sendo convidado a participar da IPHE (International Partnership for the Hydrogen Economy), parceria internacional entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, destinado a alavancar o uso energético do hidrogênio em todo mundo.

No momento, o MME elabora o Roteiro da Política Brasileira para Estruturação da Economia do Hidrogênio, com a participação de várias entidades nacionais envolvidas com essa tecnologia. Como diretrizes gerais, o MME já definiu que o uso energético do hidrogênio será tratado na matriz energética brasileira como um vetor, favorecendo prioritariamente o uso das fontes renováveis de energia, como o álcool de cana. Num futuro em que boa parte dos automóveis estiver equipada com eficientes células a combustível, será mais compensador usar o etanol para produzir hidrogênio do que para mover carros com motor a álcool.


Antes, porém, a produção de hidrogênio como combustível poderá ser feita a partir do gás natural, do qual o país conta com reservas significativas recém-descobertas na Bacia de Santos. Estrategicamente, esse energético pode favorecer a transição para o uso intensivo do hidrogênio, devido ao menor custo envolvido na geração deste elemento a partir do gás natural.

É interessante notar que desde 2000, enquanto a política para o hidrogênio está sendo definida, os grupos de P&D e algumas empresas de base tecnológica que trabalham nas diversas áreas envolvidas vêm direcionando suas atividades para ramos mais ou menos complementares entre si, estabelecendo-se competências com pouca sobreposição. Sem dúvida que este “ordenamento natural” foi fruto das inúmeras reuniões e encontros promovidos entre esses grupos, com ou sem a participação governamental. Assim, enquanto programas governamentais de envergadura são estruturados, como aconteceu com o biodiesel, os grupos utilizam os recursos que têm à disposição para progredirem tecnologicamente, sem perder contato com os avanços internacionais naquele que está sendo preparado para ser o combustível do século XXI.

Ennio Peres da Silva É coordenador do Laboratório de Hidrogênio(LH2) e do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Scientific American Brasil